A Crônica da Tuty: “Autonomias”

Por Tuty Osório, jornalista e escritora:

Tenho a convicção que a autonomia é algo que se deve conquistar cedo e jamais abrir mão. Defendo todos os custos possíveis, de toda a ordem, nessa busca e garantia. Só que nem todos têm as mesmas oportunidades de acessar a condição. Ainda carecemos de inclusões várias. Financeira, alimentar, educacional, ambiental, social, em geral. Uma das palavras da moda é soberania, em si bem excludente porque com origem nos conceitos da realeza. O soberano é o rei, o imperador, o chefe. Referência que é preciso superar
para um entendimento do mundo, de fato, revolucionário.

Sem amor e sem revolução nada seremos. Mas que revolução? Há tanto o que mudar! Explodiu na pauta a discussão da soberania digital. Da submissão às Big Techs e tal. Quando começou a romaria às ditas mídias sociais fiquei desconfiada e desconfortável. Nunca participei amplamente, para prejuízo de minha visibilidade. Por outro lado, sinto-me mais segura, embora segurança total não exista. Chegamos ao ponto da ameaça declarada, quando a maioria da população do planeta se tornou, praticamente dependente.

No Brasil ainda nos contraditamos tentando alimentar com igualdade mínima. Uns lutando por isso, outros insistindo em manter a fome como forma de opressão. Além de todas as outras graves exclusões que assolam a nossa terra tão linda e tão desigual. Conversa repetida e mal fiada que se estivesse tecida a preceito já teria se tornado dispensável. Só que não está…

Em Levantado do Chão, primeiro romance com relatos aflitos sobre a crueldade com operários e agricultores, no período salazarista, Saramago (foto no alto) conta que quatro presos políticos são isolados, cada um num compartimento, com um caderno e um lápis onde deveriam anotar nomes, endereços e circunstâncias. Os homens não eram capazes de escrever além do próprio nome e foi o que fizeram. Mais uma vez condenados pela sonegação do conhecimento, ironicamente, salvaram, assim, os que não entregaram.
Compreendemos que não o fariam, de qualquer modo. Sabiam mais do que julgavam eles próprios. Menos do que supunha o sadismo de seus algozes.

*** ***

Tuty Osório é jornalista, especialista em pesquisa qualitativa e escritora.

São de sua lavra AS CRÔNICAS DA TUTY (crônicas de 2024), QUANDO FEVEREIRO CHEGOU (contos de 2022); SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA (quadrinhos com desenhos de Manu Coelho de 2023) e MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA, dez crônicas, um conto e um ponto (crônicas e contos, também de 2023).

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SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA
QUANDO FEVEREIRO CHEGOU
MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA

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