A Crônica da Tuty: “Mestre Cabula”

Por Tuty Osório, jornalista e escritora:

Tive dúvida sobre os nomes das irmãs da Cinderela. Fui ao Google e descobri. Uma sensação incrível, desanuviar uma incerteza na mente, por mais boba que seja. Contribui para o bem estar da pessoa e para o início de um novo dia com mais harmonia. Proferi a fala diante de um Afonso perplexo que escolheu palavras, cuidadoso e temeroso – você está bem? – disse finalmente.

– Claro que não, – respondi prontamente.

– Mas a pergunta é pelos últimos anos, meses, dias, ou pelo último minuto? – continuei em tom de cobrança.

Os leitores que me acompanham sabem o quanto prezo a amizade. Faço um esforço imenso para não ser invasiva, ser sempre interessante, solidária. Afonso é, sobretudo, um amigo indispensável, generoso. Fui mal na ironia, em síntese.

Em análise, virou uma troca de justificativas do quanto andamos todos nervosos e meio tristes. Calma! Todas andamos, também. Enfim, a humanidade. Mafalda, a Shitzu, de vez em quando dá uma caída. E algumas plantas da mamãe, do nada, ficam amarelas, ressequidas, vai-se lá saber…

Fomos parar ao ranking de felicidade da ONU, onde a Finlândia está de novo, em primeiríssimo lugar. Esses rankings são bizarros, embora digam um pouco a respeito das condições que um COLETIVO pode ter, e manter, a seu favor, para viver com menos angústia. Sobram os tumultos puramente existenciais, estes, sim, impulsos na contra mão do abismo.

Bem doida, questiono Afonso sobre o que é, de fato, ser feliz. Paciente, devolve com – O que você quer ouvir? De fato, que quero eu? Acho que não quero nada, oras! Ou quero tudo, ou talvez queira, um mínimo de compreensão e de acolhimento. Ele nem precisa falar e já percebi que caí na armadilha do vitimismo. Uma vez aprisionada, fico sem manobra verbal. Melhor ficar quieta.

Proibido reclamar do rentismo, da desigualdade, do desequilíbrio, enfim, debate encerrado. Está claro e evidente. De toda a forma hoje não estou a fim desses assuntos. Volto ao conto de fadas e, baixinho, comento que os ratinhos costureiros do desenho da Disney são pra lá de fofos. Como os de Ratatouille, e os roedores imaginados de O Covil, do Kafka. A crise de riso é inevitável! Rimos das bobagens que estou dizendo, de nós mesmos na cena, do medo dos assuntos, ou da falta deles? Vai saber…

*** *** ***

Tuty Osório é jornalista, especialista em pesquisa qualitativa e escritora.

São de sua lavra QUANDO FEVEREIRO CHEGOU (contos de 2022); SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA (quadrinhos com desenhos de Manu Coelho de 2023) e MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA, dez crônicas, um conto e um ponto (crônicas e contos, também de 2023).

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SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA
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Em dezembro de 2024 lançou AS CRÔNICAS DA TUTY em edição impressa, com publicadas, inéditas, textos críticos e haicais.

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