Por Tuty Osório, jornalista, publicitária e escritora:
Diziam os ativistas da antropofagia literária, das artes, enfim, que deveríamos deglutir a pretensa civilização e regurgitar a nossa versão original. Gosto dessa postura de não desconhecer o que há. Diferente de se deixar colonizar, abertura para aprender, apreender, receber e devolver com crivo e crítica que brota e fertiliza, parece-me bom.
Parece. Se é, é coisa mais difícil de garantir. Nem tudo o que parece é, nem tudo o que é, aparece. Faz tempo que creio ter mais dúvidas que certezas. Encontro mais paz nas perguntas que nas respostas. E, sim, quero paz, o conflito quase exauriu as minhas forças. Ainda tenho cá umas tarefas para ativar. É na serenidade que tenho conseguido caminhar melhor.
Vai daí que fui lançar meu livrinho em São Paulo. Primeiro lancei em Fortaleza, meu lugar desde a infância. Depois rumei para Brasília, minha terra de adoção e de paixão. A próxima foi essa meca da cultura, o mosaico do Brasil grande, abrigado nos contrastes imensos dessa cidade majestosa e popular por excelência. Não importa que tenha começado por um povoado sem relevância na época do Brasil Colônia.
Prosperou. Sortuda de ter comandantes do dinheiro que gostavam da artesania e do pensamento, recebeu investimentos que oferecem vantagens até hoje. Não se trata de enaltecer elites. O mundo capitalista é invenção do século XIX, sendo logo após essa eclosão, a elevação de prédios e de encontros em torno das artes, sem o necessário combate à miséria, que só cresceu, entretanto.
São Paulo é imensa em contradições. Ponderemos que é exuberante a vitalidade de seu teatro, cinema, de suas livrarias, bibliotecas, exposições, e muito mais. Recebamos que é uma vitalidade que devemos deglutir.
Devolvendo-a a nós, ampliando-a em nossos territórios imediatos. A biblioteca do centro Comunitário de Canoa Quebrada é um exemplo. Trouxe eu, doados por um bibliófilo paulistano que ama compartilhar, mais de 30 exemplares para lá. Não é caridade nem beneficência. É vida que segue. Respirando no paraíso possível desta dimensão.
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Tuty Osório é jornalista, especialista em pesquisa qualitativa e escritora.
São de sua lavra QUANDO FEVEREIRO CHEGOU (contos de 2022); SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA (quadrinhos com desenhos de Manu Coelho de 2023) e MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA, dez crônicas, um conto e um ponto (crônicas e contos, também de 2023).
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SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA
QUANDO FEVEREIRO CHEGOU
MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA
Em dezembro de 2024 lançou AS CRÔNICAS DA TUTY em edição impressa, com publicadas, inéditas, textos críticos e haicais.