Por Tuty Osório, jornalista e escritora:
Num programa do Youtube, o apresentador comenta o ranking de vendas de livros em 2025. É um canal de prestígio que cita uma fonte de pesquisa confiável. Fico desconcertada ao saber que em 20 posições de vendas, mais de dez são de livros de colorir para adultos. Três de livros ditos devocionais. Algo como Café com Deus Pai e Café com Jesus. Mais dois são de autoajuda, mais precisamente de coachs famosos, segundo o rapaz que comenta. Já ando triste pela quase indiferença aos livros. Com essa notícia fico derrubada. Há também dados sobre a queda da quantidade de leitores nos últimos 10 anos. Gente, porquê? Ler é tão maravilhoso, ativa o cérebro, torna-nos mais ágeis, espertos, sensíveis, vivazes. Por qual motivo andam escolhendo vídeos de 10 segundos com um humor de gosto estranho? Dito isto, já me preparo para ser taxada de elitista. Pode ser, só que não. Pelos aeroportos onde ando, há faxineiros, atendentes de balcão, garçons, motoristas, todos encantados diante de um livro.
O que há, então? As pessoas revelam um amor que não se confirma na prática? Enaltecem um objeto e revelam intimidade com outro? Veneram o livro e na verdade gostam mesmo dos filminhos rápidos, superficiais, levianos, fúteis? Padeço de preconceito ou de lucidez? Numa exposição temporária em um restaurante, em que produzi mesas com livros, revistas, fotografias de arte, gravuras e aquarelas, observei que o público esquivava-se, fazia caretas de repulsa, desviava o olhar com constrangimento.
Foi tão intenso o meu desgosto que suspendi a empreitada, repentinamente. Amigos e conhecidos receberam a notícia com cordialidade e sem surpresa. Aumentou a minha dor. Inconformada em abrir mão, vou insistir. Lançar mais um livro e mais outro e outro mais, ainda. Acolher os que outros lançam. Vou prosseguir escrevendo, frequentando livrarias, indo ao cinema, ao teatro, a mostras de artes visuais. Teimosamente vou prosseguir fabulando, interpretando, poetando.
Ninguém, nem mesmo a chuva, terá mão tão pequenas.
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Tuty Osório é jornalista, especialista em pesquisa qualitativa e escritora.
São de sua lavra QUANDO FEVEREIRO CHEGOU (contos de 2022); SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA (quadrinhos com desenhos de Manu Coelho de 2023) e MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA, dez crônicas, um conto e um ponto (crônicas e contos, também de 2023).
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SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA
QUANDO FEVEREIRO CHEGOU
MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA
Em dezembro de 2024 lançou AS CRÔNICAS DA TUTY em edição impressa, com publicadas, inéditas, textos críticos e haicais.