A Crônica da Tuty: “Os ecos do domingo”

Por Tuty Osório, jornalista e escritora:

Eco é uma figura da mitologia grega. Fofoqueira, foi condenada a apenas repetir a fala alheia, depois de ficar de falação sobre os casos de Zeus. Hera, a esposa ciumenta do chefão do Olimpo grego, teria punido a jovem Eco, pra ela aprender a não revelar o que não se pediu pra saber. Falastrona que fui, não sobre fofocas, mas sobre a existência, fujo da condenação de Eco, embora vendo que pessoas abraçam esse destino sem imposições.

Condenam-se a repetir comportamentos, falas, ideias, digamos, medíocres. Enfim, fujo, me escondo e vivo saindo de cena por pavor de virar Eco. Não por escolha. Por tocaia. Assalto. Nocaute.

O domingo é salvação. No domingo a gente abraça a paz sem culpas. O ar é morno, mesmo no frio. A luz é brilhante, mesmo no Ártico. O domingo que vivo entre os meus. Que compartilho entre filmes, livros, canções. Domingos que viraram dias doces quando aprendi a sorvê-los sem melancolia amarga. Sim. Existe melancolia doce. E essa eu abraço sem temor, com a felicidade de quem não sente culpa. Os domingos são de Deus, do Deus de cada um, o seu , o meu, seja esse Deus o quê e quem for. Seja um Exu, um Cristo, todos são por todos. São os protetores das encruzilhadas do perigo. Os que vencem pelo amor. Não importa a razão. A fé é a maestrina. Até a fé de que não a há. Negá-la com convicção é um ato dela.

Sem trocadilhos de Leminsky. Com frases bombásticas de Adélia Prado. Nasci para carregar bandeira. Diz ela em A Bagagem. Bandeiras rasgadas por quem não as deseja. Por quem não tem uma alegria ancestral. Debocha. Com talheres de prata. Te chama de desesperada. De fracassada. Talvez nem te chame, o que às vezes é mais cruel. Nem te verem. A não ser pela nesga da condescendência. Pessoas que não são desdobráveis. Eu sou. Sou? Não sei.

Não saber das coisas é reconfortante. Não ser mística nem atômica. Embora seja saudável a gente conseguir ser alguma coisa.

*** ***

Tuty Osório é jornalista, especialista em pesquisa qualitativa, e escritora.

São de sua lavra QUANDO FEVEREIRO CHEGOU (contos de 2022); SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA (quadrinhos com desenhos de Manu Coelho de 2023) e MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA, dez crônicas, um conto e um ponto (crônicas e contos, também de 2023).

CLIQUE AQUI PARA ACESSAR (exclusivo para os leitores do portal InvestNE)
SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA
QUANDO FEVEREIRO CHEGOU
MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA

Em dezembro de 2024 lançou AS CRÔNICAS DA TUTY em edição impressa, com publicadas, inéditas, textos críticos e haicais.

 

Compartilhe o artigo:

ANÚNCIOS

Banner-Coluna-1
Edit Template

Sobre

Fique por dentro do mundo financeiro das notícias que rolam no Ceará, Nordeste e Brasil.

Contato

contato@portalinvestne.com.br

Portal InvestNE. Todos os direitos reservados © 2024 Criado por Agência Cientz