A Crônica da Tuty: “Por nos deixar existir”

Por Tuty Osório, jornalista e escritora:

Em 1985, na faculdade, em Lisboa, As Novas Tecnologias em Comunicação Social eram nome de cadeira e de seminário. Participei de um Fórum internacional a respeito, ainda estudante, absorvendo igual a uma esponja todo o conhecimento que me acenava. Dez anos depois, de volta ao Brasil, a internet era uma realidade ainda precária. Nem sonhávamos com o home office nos moldes de hoje e parecia distante o tempo do tempo na palma da mão, esperto e real. De tijolo em tijolo chegamos ao SMART, num desenho
lógico, atrapalhando o trânsito.

Mais uma que cabe na Construção do Chico, poema épico e prosaico, eterna transversal. O debate político siderou no uso do celular nas escolas, a clássica confusão entre sintoma e doença. A grita é que os jovens não sabem mais conversar, estão deprimidos e ansiosos por excesso de telas, as mídias sociais só contêm lixo, e vai que vai. Sinceramente, preocupa-me essa substituição, cuidadosa e meticulosa, do essencial pelo acessório.

As automutilações, os suicídios, na infância e na adolescência, o desespero que vi em olhos que me são íntimos, não aconteceriam se não houvesse sofrimento, falta de perspectiva, desesperança. As escolas priorizam o desempenho em exames, ignoram a saúde emocional dos alunos. De fato, pretendem sanar o quê, com a proibição dos aparelhinhos que não passam de mais um item de consumo e uso nesta modernidade de trevas?

Se queremos mais conversa, mais carinho, mais motivação não é contra o celular que devemos lutar. Existe lei proibindo o desamor, a indiferença, a superficialidade? Pois é, esses daí, tem que conquistar na coragem. Despindo o casaco que ilude o verdadeiro frio que nos tortura.

Antes que me julguem vou explicitar que falo com vivência. Que reconheço as boas intenções do discurso avesso à tecnologia. Só que quando saio com livros nos braços, como se rosas fossem, não encontro muita gente disposta a largar o Android, ou o Iphone, para ter mãos e abraçá-los.

Não é que tenho certeza. Sendo reincidente, para não dizer repetitiva, as dúvidas são bem mais inteligentes. E compassivas.

*** ***

Tuty Osório é jornalista, especialista em pesquisa qualitativa e escritora.

São de sua lavra QUANDO FEVEREIRO CHEGOU (contos de 2022); SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA (quadrinhos com desenhos de Manu Coelho de 2023) e MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA, dez crônicas, um conto e um ponto (crônicas e contos, também de 2023).

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SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA
QUANDO FEVEREIRO CHEGOU
MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA

Em dezembro de 2024 lançou AS CRÔNICAS DA TUTY em edição impressa, com publicadas, inéditas, textos críticos e haicais.

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