Por Tuty Osório, escritora e jornalista:
Há anos que tenho vontade de fazer aulas de canto. Até tentei com um professor particular, cheguei a estudar partituras, notas e tons. As viagens constantes a trabalho afastaram-me de uma rotina dessas, como sempre acontece. Foi assim com o alemão, o espanhol, os estudos literários formais. Só consigo levar adiante o que faço sozinha, por conta própria, sem coletivos ou horas planejadas. Desta vez decidi arriscar. Minha mãe convidou-me para integrar um Coral e topei. Enquanto estou por aqui, vou por lá. Adorando, inclusive.
É de uma beleza singela, simples. As vozes vão se sincronizando a cada ensaio. Idades diversas, pessoas com quem não tínhamos convivência vão se misturando a nós num mesmo objetivo. Sem programar, o mais potente está conduzindo o aparentemente mais fraco. A mais experiente conduz pelo som a estreante, como se pela mão se tratasse. É um pacto espontâneo, generoso, que ao iniciar parece que jamais se livrará do primeiro caos.
Só que não. É tanta a alegria do conjunto que vibramos a cada acerto, tal qual crianças em classe. Ninguém quer destacar-se, comandar, sobrepor-se, pois que o sucesso de um coral é o conjunto harmonioso, um só brado composto por muitas cordas vocais seguindo juntas o traçado das canções. A regente orienta suavemente, despojada de autoridade ou prepotência. Move-a o saber e o prazer de levar o todo que rapidamente forma-se.
Uns largam primeiro, outros incorporam-se no meio da letra. Os homens abrindo o tom, as mulheres fechando. A canção que se chama SOL diz que o danado pode não querer brilhar, esteja onde estiver, a nossa voz, o nosso amor…Como se fora brincadeira de roda, canto do trabalho na dança das mãos vou aprendendo a respirar a cada frase. Enrolo-me na garganta que é versada em improvisos, mais habituada a choros.
Sinta a nossa voz, sinta o nosso amor, eles vão te acompanhar…
*Primeira frase da canção O SOL, entoada nos ensaios do Coral da Sociedade Beneficiência Portuguesa.
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Tuty Osório é jornalista, especialista em pesquisa qualitativa e escritora.
São de sua lavra QUANDO FEVEREIRO CHEGOU (contos de 2022); SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA (quadrinhos com desenhos de Manu Coelho de 2023) e MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA, dez crônicas, um conto e um ponto (crônicas e contos, também de 2023).
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SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA
QUANDO FEVEREIRO CHEGOU
MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA
Em dezembro de 2024 lançou AS CRÔNICAS DA TUTY em edição impressa, com publicadas, inéditas, textos críticos e haicais.