O Portal InvestNE e a jornalista e escritora Tuty Osório – que o público já conhece por crônicas bem servidas aqui e no Blog do Eliomar – iniciam hoje uma nova proposta: resenhas literárias serão publicadas sempre às quartas-feiras, havendo, claro, lançamentos editoriais que justifiquem a atenção da autora e dos leitores.
Abaixo, a primeira Resenha da Tuty. O foco é a atual literatura italiana. Confira:
Há uma leva de autores e autoras da Itália com algo em comum. Prosa envolvente, fértil em enlevos complexos contidos numa simplicidade formal contundente. Os roteiros são bons. Porém, não é o conteúdo que nos conquista do primeiro ao último parágrafo. É um bom conteúdo. Histórias de gente comum. Situações banais muito interessantes. Casos de amor de todas as classes, de todos os tipos que habitam o cotidiano mais normal. É a maneira de contar que segura, mexe com a gente. Eis três casos, aparentemente, os mais famosos.
Um diário escrito por uma mulher da classe média urbana na década de 50 do século passado. São as anotações dos desabafos mais escondidos, até para ela mesma, quase impossíveis de assumir. A dona de casa que encara o trabalho fora por necessidade financeira e jamais é reconhecida em sua capacidade de pensar e sentir. Nem pela família, nem pelo chefe, nem pelos colegas. Subestimada por si e por todos, dispõe-se ao aprendizado da vida, encoberto em quem menos podia esperar.
As páginas são produzidas num caderno comprado num quiosque que o vende por contravenção. Fadadas à clandestina culpa, são o mapa das mulheres daquela década e de algumas décadas a seguir. Vinte anos depois do período indicado, as mulheres ainda eram tuteladas civilmente pelos maridos. Não podiam viajar, nem trabalhar sem a anuência oficial deles ou dos pais homens. Eram assassinadas por legítima defesa da honra de seus companheiros apertadores dos gatilhos, operadores das facas.
Na mesma Itália, um outro romance oferece-nos a saga sutil da infidelidade masculina que arrisca um casamento com filhos e, logo após, volta correndo ao lar infeliz, porém, seguro. Aqui são três narradores, múltiplas perspectivas, a mulher, de novo, como centro e muitas décadas percorridas.
O terceiro do trio é a tetralogia do Romance Napolitano que abre com A Amiga Genial, prossegue com História do Novo Sobrenome, segue com História de Quem Segue e de Quem Fica e encerra com História da Menina Perdida. Uma aparente trama sobre amizade e casamentos desastrosos, numa Nápoles periférica, violenta, romanesca em tons de vermelho, rosa, amarelo e muito azul. Só que aqui o que vale é a maneira fascinante como os episódios são expostos em letras duras, criativas, diretas, secas. Intercaladas com momentos de dança, leveza que se reveza e, até se irmana, com a precisão.
Passe numa livraria e pegue todos. Parcele, dê um jeito. Ou pegue emprestado com as amizades que leem. Só não perca esse pessoal que está nas paradas porque é bom mesmo.
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- O CADERNO CLANDESTINO, por Alba Césperes, tradução de Joana Angélica Dávila Melo, Companhia das Letras.
- LAÇOS, por Domenico Startone, tradução de Maurício Santana Dias, Editora Todavia.
- SÉRIE NAPOLITANA (QUATRO ROMANCES), por Elena Ferrante, tradução de Maurício Santana Dias, Biblioteca Azul.
EM TEMPO: repare nas boas traduções, essenciais para a leitura fluir e fruir.