Por Tuty Osório, jornalista e escritora:
Com sinceridade, ou não, cantam-se loas aos consagrados. Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Adélia Prado. Mais recentemente Conceição Evaristo, Itamar Vieira Júnior, Ana Maria Gonçalves. Para nossa sorte, a lista é justa e é mais. Para cada um desses autores tenho elogios, enlevos, paixões por trechos, mesmo por obras inteiras. São, no mínimo, geniais, maravilhosos! Menos consenso encontra Erico Veríssimo com suas sagas empolgantes, ditas de leitura fácil. Amo! E não considero tão simples. Há um que me é especial e do qual o autor não gostava, segundo disse num encontro com o público, numa de suas viagens ao exterior.
Trata-se da história da queda de um corpo, contada por diversos personagens que a testemunharam de diferentes pontos da cidade de Porto Alegre. Também a viram do lugar da sua história, do momento do seu dia, da sua espera, do seu drama ou alegria. Teria sido suicídio, acidente ou assassinato? Ao final sabe-se, embora a última cena seja sobre a existência das testemunhas perdidas em dúvidas de vida, sobrepostas às intermitências da morte. É um romance lindo, inspirador, envolvente. Daqueles que a gente não larga e quando acaba fica com saudades. Vocês me entendem.
Os capítulos são tecidos como uma trama de crochê. Interligados, inseparáveis, guardam mistérios de cada um e do grupo inteiro. Que desconhece ser uma ciranda, contudo, ligada nesse pacto involuntário, é mais: forma uma comunidade de espectadores do drama da moça arremessada pelo destino, por outrem ou por si mesma, da bancada da varanda ao chão da calçada da cidade ensonada, negligente, desvairada. Como em Meu Nome é Vermelho, de Pamuk, cada ser, ou não ser, com sua cruel dúvida. E depois? O que sobra? Por onde é o caminho?
INFORMAÇÕES:
O RESTO É SILÊNCIO, por Erico Veríssimo, Editora Globo, 1987 (Esta é a minha edição , porém, há mais recentes nas livrarias físicas e digitais).
*** ***
Tuty Osório é jornalista, especialista em pesquisa qualitativa, e escritora.
São de sua lavra QUANDO FEVEREIRO CHEGOU (contos de 2022); SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA (quadrinhos com desenhos de Manu Coelho de 2023) e MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA, dez crônicas, um conto e um ponto (crônicas e contos, também de 2023).
CLIQUE AQUI PARA ACESSAR (exclusivo para os leitores do portal InvestNE)
SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA
QUANDO FEVEREIRO CHEGOU
MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA
Em dezembro de 2024 lançou AS CRÔNICAS DA TUTY em edição impressa, com publicadas, inéditas, textos críticos e haicais.


Fique por dentro do mundo financeiro das notícias que rolam no Ceará, Nordeste e Brasil.