Ana Márcia Diógenes: “O que tinha de ser, será?”

Por Ana Márcia Diógenes, jornalista e escritora:

Algumas palavras e frases parecem roupas de tamanho único. Podem ser usadas para consolar ou passar na cara, aliviar ou deixar a situação ainda mais pesada. Usando aqui a licença poética na gramática, seria algo como o “comum de dois”, quando um substantivo tem uma só forma tanto para o masculino quanto para o feminino. 

“O que tinha de ser” parece um desses casos. Se uma criança derruba um jarro que a mãe havia dito várias vezes que não passasse nem perto, vai acabar ouvindo o desabafo “o que tinha de ser acabou acontecendo. Bem que avisei que você não passasse correndo”.

Em situação de consolo, para explicar a uma criança febril que ela vai ter que sair mais cedo da festinha, lá vem a frase “e seu primo, que nem veio porque está com catapora? Ter ficado pelo menos um pouquinho era o que tinha de ser. Você tem que se considerar um sortudo”.

O que tinha de ser serve até para quem ganhou ou perdeu na Megasena. Alguém pode dizer “também, com tanta combinação de número era o que tinha de ser, difícil mesmo acertar”. Como também pode justificar o acerto: “sonhei com isso minha vida toda, repeti várias vezes os mesmos números, era o que tinha de ser. Muito justo.”

Ou seja, a exemplo de beber café, o que dá para dormir para uns, dá para acordar para outros. E é nessas escolhas dos sentidos que a gente deve mergulhar no que as palavras nos trazem em cada ocasião. E é porque nem cheguei a falar na entonação de cada o que tinha de ser… fica para outra crônica.

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Ana Márcia Diógenes é formada em Comunicação Social (UFC), especialista em Responsabilidade Social e em Psicologia Positiva e mestra em Planejamento e Políticas Públicas. É professora de Jornalismo (pós graduação), escritora e consultora em comunicação e direitos para a infância e juventude.