Por Roberto Maciel, jornalista:
“Exaure-me sobremaneira desperdiçar tempo precioso com tarefas inócuas, muito embora reconheça a imprescindibilidade disso”…
Peço perdão à estimada leitora e ao estimado leitor pelo jeitão pedante com o qual começo o texto deste iluminado sábado, 22 de novembro de 2025. É que não pude escapar da ironia ao estilo cirogomesano.
Com a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro na manhã de hoje, por conta de uma atrapalhada e estúpida tentativa de fuga daquele condenado da lei e da justiça, fui assaltando pela lembrança de uma patacoada que Ciro Gomes, hoje bolsonarista de carteirinha desde quando era escoteiro, confessou anos atrás.
Foi em 2016. Disse ele, já um desocupado juramentado, ao jornal O Globo: “Pensei: se a gente formar um grupo de juristas, a gente pode pegar o Lula e entregar numa embaixada. À luz de uma prisão arbitrária, um ato de solidariedade particular pode ir até esse limite. Proteger uma pessoa de uma ilegalidade é um direito”.
Sim, você certamente lembra: Ciro declarou, segundo matéria jornalística publicada em 28 de junho de 2016, que tinha desenhado um “plano infalível” (royalties para Cebolinha, personagem do genial Maurício de Souza). Futucando a Internet, achei no site paranaense Gazeta do Povo essa outra confissão do perpétuo perdedor de disputas eleitorais: “Eu quero me voluntariar para formar um grupo, com juristas nos assessorando, que se a gente entender que o Lula pode ser vítima de uma prisão arbitrária, a gente vai lá e sequestra ele e entrega ele numa embaixada. Isso eu topo fazer”.
Sabe quem recusou firme e corajosamente a armação? Lula.
“Vou lá para a Polícia Federal, porque eu quero desmascarar o Ministério Público que me acusou e o juiz que está me acusando’. E consegui isso, consegui depois de 582 dias, disse em setembro passado, lembrando da rejeição ao puxa-saquismo que se articulava.
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Recordar Ciro Gomes, um vulgar coadjuvante de expressão ínfima nos roteiros políticos do Brasil, é, de todo modo, insistir na constatação de que o caráter de Luiz Inácio Lula da Silva é melhor, muito melhor, mais coerente e mais justo, do que o de Jair Messias Bolsonaro.
Tão diferente quanto são as histórias de ambos: o primeiro é um ex-operário que, quando criança, deixou o Interior de Pernambuco num pau-de-arara (arremedo de transporte de pessoas pobres) e foi para o Sudeste transformar a vida de brasileiros e brasileiras trabalhadores e que chegou a presidente da República eleito três vezes pelo voto popular.
O outro é um ex-militar envolvido com planos de atentados a bomba, admirador do pau-de-arara (instrumento de tortura e assassinato), que fez carreira insignificante na política e que chegou a presidente da República eleito com o voto popular e rejeitado com o mesmo voto popular. E que tentou dar um golpe de estado para roubar o poder para si.
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Há distinções. Largas, profundas, nítidas e palpáveis. Cansa-me escrever sobre elas, mas sei que é necessário.


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