Artigo do advogado, contista e membro da Academia Icoense de Letras Fabrício Moreira da Costa (foto):
O saudoso promotor de Justiça Rembrandt de Matos Esmeraldo (na foto abaixo), que partiu para a Pátria Celestial, permanece vivo na memória daqueles que o conheceram. Sua inteligência afiada e sua irreverência marcante fazem dele uma figura inesquecível, especialmente no Tribunal Popular do Júri, onde sua atuação se tornou lendária. Rembrandt era um mestre da palavra, utilizando-a ora em versos, ora em provocações, muitas vezes direcionadas aos advogados que ousavam enfrentá-lo.
Era um verdadeiro duelo de nervos. Quem possuía equilíbrio emocional e nervos de aço conseguia se manter firme. Mas quem sucumbia às provocações, perdia a paciência – e, frequentemente, os argumentos necessários para enfrentá-lo e brilhar em defesa do réu. Esse era o jogo que ele sabia jogar como ninguém.
Minha primeira experiência com o dr. Rembrandt ocorreu há quase três décadas, no Tribunal Popular do Júri em Lavras da Mangabeira. Naquela ocasião, eu auxiliava o advogado Aldo Monteiro, meu conterrâneo de Icó, que também já partiu para o plano celestial. Rembrandt, perspicaz como sempre, percebeu que Aldo dominava a oratória e que eu também tinha minhas armas. Então, partiu para as provocações:
— Esses dois advogados desse carcará sanguinolento vieram do Icó pras Lavras. “Um papagaio velho e um periquito”!
E funcionou. Dr. Aldo, conhecido por sua impetuosidade, não deixou passar. Discussão vai, discussão vem, o tempo se esvaiu. No fim, o promotor de justiça – ou melhor, de acusação – conseguiu o que queria: mais um acusado de homicídio nos sertões do Ceará foi condenado e enviado à prisão.
Rembrandt de Matos Esmeraldo deixou um legado singular, marcado por sua inteligência estratégica, sua capacidade de desestabilizar adversários e sua habilidade de transformar o Tribunal do Júri em um verdadeiro palco, onde ele sempre roubava a cena. Um personagem imortal, cuja lembrança ainda ecoa nos corredores da justiça cearense.