Artigo do Roberto Maciel: “Bergson x Martins Filho – A extrema-direita não deixa que os mortos descansem em paz”

Araguaia: a dramática história de Bergson | O outro lado da notícia

Texto do jornalista Roberto Maciel, editor do portal InvestNE:

Tentou-se fazer estourar nos últimos dias o que se convencionou chamar de “narrativa”. A extrema-direita, ao ver a notícia de que o Conselho Universitário da Universidade Federal do Ceará havia definido como denominação da Concha Acústica da Reitoria uma homenagem ao ex-aluno de Química Bergson Gurjão Farias, vítima da estúpida ditadura militar no Brasil, saiu por aí chiando e dizendo que a decisão desrespeitava a memória do ex-reitor Antônio Martins Filho, operoso articulador da fundação da UFC.

Um advogado piauiense que atua no Ceará, de nome Cândido Albuquerque, saiu-se com essa no Instagram: “Com surpresa, tomei conhecimento de que o Conselho Universitário da UFC, na última sexta-feira, 01.11, renomeou a ‘Concha Acústica e Auditório Reitor Antônio Martins Filho’, com o nome de Bergson Gurjão Farias, ex-aluno da UFC, morto pelas forças de segurança do regime militar de 64, quando lutava para a implantação de um regime socialista no Brasil”.

Cândido Albuquerque, para quem não sabe – e é possível que sejam muitos -, foi o reitor nomeado por Jair Bolsonaro para a UFC. Isso já indica a importância da pessoa.

E continuou: “Não entro no mérito das preferências ideológicas. O que me assusta é a retirada do nome do autor da obra para colocar o nome de um ex-aluno, morto quando lutava por suas ideias”.

O ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio Rodrigues Bezerra, dono de negócios educacionais e filho do ex-reitor Roberto Cláudio Frota Bezerra, também se achou no direito de acusar o Conselho Universitário.

Assim escreveu RC: “A direção da nossa Universidade Federal do Ceará precisa rever, urgentemente, a decisão de retirar o nome do professor Antônio a Martins Filho da concha acústica da Reitoria da UFC. A história da nossa UFC não pode ser contada apagando exatamente o principal capítulo dessa mesma história”.

A história, mal apurada por um e outro, mostra que a Concha Acústica não tinha denominação oficial. Ao contrário, era informalmente chamada de “auditório Martins Filho”, algo a que nem a própria UFC atentava. Ou seja, não se retirou nada.

Em 2023, a Resolução 35 do Consuni atribuiu à Pró-Reitoria e Cultura a gestão do espaço – mais uma vez sem fazer menção ao nome do ex-reitor.

Na verdade, quem se abespinhou, rugiu e se julgou ideologicamente ofendido com a homenagem a Bergson Gurjão passou atestado público de notória ignorância sobre a Universidade Federal do Ceará.

*** *** ***

O fato, grave, por sinal, é que se tenta levar para a rinha entre esquerda e direita duas personalidades relevantes do Ceará, ambas já falecidas. Bergson, destacado por se insurgir contra a brutalidade com que um punhado de militares e de empresários impuseram aos brasileiros. Martins Filho, de inquestionável valor na instituição do ensino superior no Estado.

Homenagear a ambos é uma obrigação social com a história.  Tratá-los como fantoches num pastelão de briga canhestra e patética é demonstração de mesquinharia e de desapego à verdade, nada mais.

É coisa que nada acrescenta à história e à justiça. 

 

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