Ataque bolsonarista às Havaianas foi outro golpe frustrado; não conseguiu sequer arranhar o mercado de ações do Brasil

Por Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos:

Sobre a questão da Havaianas, assim como em outros episódios de cunho político, o impacto tende a se concentrar no curto prazo, no dia ou ao longo de algumas semanas, sem força suficiente para alterar a trajetória da marca. Essa leitura se apoia no histórico recente do mercado, especialmente em períodos eleitorais, quando executivos de grandes empresas se posicionaram publicamente e, no ciclo seguinte, esses movimentos não se traduziram em efeitos duradouros sobre os negócios.

Há exemplos claros disso. Edgar Corona, da Smart Fit, chegou a se manifestar politicamente em 2018, mas na eleição seguinte optou por não se posicionar, sem que isso tivesse provocado mudanças estruturais na percepção da marca ou na demanda. O mesmo vale para outros casos em que lideranças têm afinidades políticas conhecidas, como Luciano Hang, associado ao ex-presidente Jair Bolsonaro, ou Luiza Trajano, frequentemente ligada a posições mais próximas do presidente Lula. Esses alinhamentos individuais existem, mas não se mostram determinantes para o comportamento do consumidor no médio e longo prazo.

Na prática, o ruído costuma ficar restrito a grupos mais vocais, influenciadores ou nichos específicos, que reagem de forma mais intensa no calor do momento. Isso pode gerar algum barulho negativo pontual, mas não uma mudança estrutural. Episódios anteriores reforçam essa dinâmica. No caso da JBS, durante o governo Temer, houve manifestações de boicote e declarações de que consumidores deixariam de comprar os produtos da empresa, algo que não se sustentou com o passar do tempo.

No caso específico da Havaianas, esse efeito tende a ser ainda mais limitado. A marca não enfrenta hoje um concorrente direto forte o suficiente para capturar uma eventual insatisfação pontual do consumidor. Além disso, o foco estratégico da empresa está muito mais voltado à expansão internacional. No mercado interno, a marca já alcançou um nível de penetração próximo da saturação, o que reduz o impacto de movimentos conjunturais como esse.

Diante desse contexto, o episódio é interpretado como algo momentâneo, sem efeitos relevantes no longo prazo. Mesmo no mercado financeiro, pode haver reações distintas no curto prazo entre analistas, positivas para alguns e negativas para outros, dependendo do viés político. No consumo do dia a dia, porém, o brasileiro tende a priorizar fatores como modelo, conforto e disponibilidade, muito mais do que posicionamentos políticos ou campanhas específicas.

Situações desse tipo surgem de tempos em tempos, seja por declarações de CEOs, posicionamentos em campanhas publicitárias ou, em cenários mais graves, por problemas operacionais ou de governança. Esses últimos, sim, têm potencial de gerar impactos mais duradouros sobre as marcas, o que não parece ser o caso da Havaianas neste episódio.

Compartilhe o artigo:

ANÚNCIOS

Edit Template

Sobre

Fique por dentro do mundo financeiro das notícias que rolam no Ceará, Nordeste e Brasil.

Contato

contato@portalinvestne.com.br

Portal InvestNE. Todos os direitos reservados © 2024 Criado por Agência Cientz