Do site Consultor Jurídico:
Steven Levitsky, professor da Universidade Harvard e coautor do best-seller “Como as democracias morrem”, considera que atualmente a democracia brasileira é mais forte do que a dos Estados Unidos. O cientista político chegou à conclusão ao comparar como as instituições do Brasil lidaram com a invasão das sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023, e a inércia do Estado americano após a invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021.
“Donald Trump escapou impune. Ele falhou em dar o golpe, mas o Legislativo, o Judiciário ou seu próprio partido não o responsabilizaram. Ele foi autorizado, apesar de ter tentado um golpe, a concorrer à reeleição e venceu. No Brasil, houve uma denúncia bastante ampla da tentativa de golpe em 2022 e um esforço muito mais sério para responsabilizar Jair Bolsonaro. E Bolsonaro pode acabar preso por seus crimes contra a democracia”, disse ele em entrevista à BBC News Brasil.
“As instituições democráticas do Brasil parecem ter respondido de forma muito mais saudável do que as dos Estados Unidos. Acho que hoje o Brasil é um sistema mais democrático do que os Estados Unidos. Esse pode não ser o caso daqui a um ano, mas hoje as instituições brasileiras estão funcionando melhor.”
Embora reconheça e veja de forma positiva o protagonismo assumido pelo Supremo Tribunal Federal na defesa da democracia, Levitsky adverte sobre os riscos do acúmulo de poder pela corte. Para ele, é perigoso permitir a “formulação de políticas” por órgãos não eleitos.
“Ninguém jamais abre mão do poder voluntariamente. Quando você entrega poder aos tribunais, ao governo ou aos militares, eles nunca o devolvem voluntariamente. Então, depois que essa crise — espero — for superada, os brasileiros terão de enfrentar a tarefa de empurrar o Supremo Tribunal Federal de volta para o seu devido lugar. Sempre que há um órgão não eleito formulando políticas, se está em um território perigoso em uma democracia”, observou.
A respeito da tarifa americana de 50% sobre todos os produtos brasileiros, que deve vigorar a partir de 1º de agosto, o professor de Harvard disse se tratar de bullying contra um país do qual Donald Trump espera subserviência. E o caráter personalista do atual governo republicano é uma das diferenças entre esse episódio e outras interferências da Casa Branca na política de países da América Latina.
“Durante a Guerra Fria e mesmo antes dela, os EUA usaram intervenção militar, ações subversivas da CIA e de outras agências de inteligência (para interferir). Os Estados Unidos são uma grande potência e seus governos têm a capacidade, quando escolhem fazê-lo, de intimidar governos estrangeiros e intervir nos seus processos internos. É diferente em muitos aspectos, mas principalmente por ser um movimento personalizado. Isso não é algo que está sendo conduzido pelo Departamento de Estado ou pela CIA. Não é um produto da política externa dos EUA ou uma ação do Estado. É tudo Donald Trump.”