Quadrilhas especializadas em roubos e furtos em São Paulo têm utilizado senhas de policiais militares, incluindo as de agentes da Força Tática — unidade “tática e ostensiva” da PM-SP —, para monitorar viaturas e cometer crimes sem serem incomodadas. Os acessos ao chamado Copom Online, sistema da polícia paulista, são vendidos por valores entre R$ 80 mil e R$ 100 mil, conforme investigações da própria Polícia Civil.
As informações foram reveladas em reportagem do Domingo Espetacular, da Record TV, e apontam para uma relação umbilical entre policiais e criminosos que, nestes casos, se tornam sócios nos grandes roubos. Os crimes que envolvem roubos de senha e acessos ao sistema de inteligência da PM-SP já são registrados desde 2021.
Os detalhes vieram à tona a partir da prisão de um homem que tinha, em casa, um computador com todos os acessos aos sistemas da polícia. Três investigações correm para apurar o comércio das senhas de acesso aos sistemas das autoridades.
Situação única no mundo
À reportagem da Record TV, o procurador de Justiça do Ministério Público de São Paulo, Marcio Sergio Christino, diz que o caso é situação única no mundo e que causa danos imensuráveis à área da segurança.
“Isso é resultado da evolução tecnológica do crime organizado, que não é acompanhada no mesmo ritmo. Até certo ponto, isso é normal, até porque a prática repressiva é reativa, mas, neste aspecto em particular, se revela diferente. Isso porque não é a evolução da prática do crime em si, mas de um meio para garantir que crimes sejam praticados sem a intervenção policial, o que é muito mais grave”, diz o procurador em entrevista à revista eletrônica Consultor Jurídico.
“Só isso já impediria, por exemplo, o uso de aparelhos não cadastrados, tais como o computador encontrado plugado na rede, ou ainda a venda de senhas para servidores. Neste último caso, o problema é humano, e um serviço de contrainteligência deveria ser criado para tal vigilância.”
A reportagem do Domingo Espetacular tentou contato com a PM, mas não conseguiu retorno.