Da Agência Pública: “Influenciadores estão lucrando com a desgraça alheia”

Por Letícia Gouveia (foto), analista de Audiências da Agência Pública:

Letícia Gouveia, Autor em Agência PúblicaImagine, nos dias de hoje, um influenciador fazendo propaganda de cigarro em seu perfil. Dizendo o quanto é bem-sucedido por fumar, o quanto o cigarro o ajudou a conquistar o estilo de vida que tem hoje. Enquanto isso, milhares de pessoas adoecem em decorrência do vício.

Agora, substitua cigarro por bets. 

Pois bem, foi esse paralelo que a criadora de conteúdo Carolline Sardá abordou em uma live comigo no Instagram da Agência Pública. Conversamos sobre a responsabilização dos influenciadores e os limites éticos das propagandas de apostas online.

Para Carol, que é publicitária, criadora de conteúdo e crítica das propagandas de apostas, a estratégia de aliar o marketing das plataformas a influenciadores digitais serve para legitimar e dar autoridade a algo que, na prática, promove a ludopatia (vício em jogos) como estilo de vida.

Os influenciadores têm responsabilidade direta no endividamento de milhões de brasileiros por, justamente, influenciarem esse tipo de comportamento. “Você escolhe as campanhas, você está influenciando a sua audiência, esse é seu trabalho. E quando você vende a sua audiência para direcionar as pessoas ao vício, a responsabilidade é direta.”

Em 2024, 23 milhões de pessoas fizeram alguma aposta nas bets, o que representa 15% da população acima de 16 anos. Destas, quase metade (47%) está endividada, e 4 milhões (16%) consideram a aposta um tipo de investimento. Para Sardá, divulgar casas de apostas para pessoas em situação de vulnerabilidade é “muito desonesto”, pois é “direcionar para uma armadilha”. “Os lucros das casas de apostas vêm das perdas dos jogadores, é esse dinheiro que vai pagar o salário da Virgínia”.

O que ela ressaltou ficou conhecido como “cachê da desgraça”. Nesse modelo, os influenciadores recebem uma porcentagem sobre as perdas dos apostadores. Ou seja, quanto mais seus seguidores perdem, maior é o lucro dos influenciadores. Durante a CPI das Bets, Virgínia foi questionada sobre isso, mas negou ter recebido esse tipo de pagamento.

Influencers também são poderosos — como políticos e empresários — e muitos se blindam por trás do dinheiro. Isso ficou evidente justamente na CPI das Bets, encerrada recentemente no Senado.

Os senadores rejeitaram, por 4 votos a 3, o relatório final da senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), que recomendava o indiciamento de influenciadores como Virgínia Fonseca e Deolane Bezerra, além de empresários do setor, por indícios de lavagem de dinheiro, propaganda enganosa e outros crimes. Com a rejeição, a CPI terminou sem qualquer encaminhamento prático aos órgãos competentes.

Se o poder público lavou as mãos, a responsabilidade agora é nossa.

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