As elevadas taxas de juros praticadas em financiamentos voltados aos pequenos negócios (MEI, micro e pequenas empresas) ficam ainda mais caras quando os tomadores são as mulheres empreendedoras, aponta estudo inédito feito pelo Sebrae Nacional, com base em dados do Banco Central.
A partir das operações realizadas no primeiro trimestre deste ano, a pesquisa “O financiamento do empreendedorismo feminino no Brasil: um panorama do mercado de crédito” revelou que, enquanto nos financiamentos contratados pelos donos de pequenos negócios no Brasil a taxa média foi de 36,8% ao ano, para o público feminino fica em 40,6%.
No Ceará, as empreendedoras pagam em média uma taxa anual de 42,5% de juros pelo crédito contratado. Já os empreendedores do sexo masculino pagam 39,9% de juros. O estudo também mostra que as donas de pequenos negócios cearense têm uma taxa de inadimplência nas operações de crédito menor do que a dos homens (8,7% x 8,9%).
Em todo o país, as empresas geridas por homens têm uma taxa média de inadimplência nas operações de crédito de 7,1%, enquanto nos negócios liderados por mulheres a taxa é de 7,6%. Estes números contrariam a especulação de que o empréstimo às mulheres seria uma transação financeira de maior risco do que aos homens, uma vez que as taxas de inadimplência são muito próximas.
Mais juros e menos crédito
Além de arcarem com uma taxa de juros maior, as mulheres brasileiras ficam com uma fatia menor dos recursos que o mercado de crédito disponibiliza para o pequeno negócio. O estudo mostra que as empreendedoras do país respondem por quase 40% do total de 23,1 milhões de operações realizadas no primeiro trimestre deste ano, mas, em termos de valores, só obtiveram 29,4% dos R$ 109 bilhões de empréstimos destinados ao segmento. Ou seja, o valor do crédito concedido é superior quando se trata de um empreendimento gerido por um homem.
Em território cearense, a diferença entre o volume de recursos e o de operações também pende para o lado dos empreendedores do sexo masculino. Enquanto as empreendedoras do Ceará tiveram acesso a apenas 33% dos R$ 2,17 bilhões em empréstimos concedidos no estado, o restante do bolo ficou com os empreendedores.
As cearenses também responderam por apenas 39% do total de 457 mil operações de crédito realizadas no estado e os homens pelas outras 61%, reforçando a disparidade das relações entre os gêneros no que se refere à obtenção de crédito para a atividade empreendedora.
Problema estrutural
Para a diretora de Administração e Finanças do Sebrae Nacional, Margarete Coelho, não estamos diante de aspectos estritamente econômicos. “Há componentes estruturais que precisam ser reconhecidos, para o desenho e a implementação de ações, no âmbito público e privado, tais como os próprios papéis de gênero estabelecidos, que tendem a desvalorizar as capacidades empresariais das mulheres, resultando em um preconceito implícito por parte das instituições. Temos ainda questões de cunho socioculturais, incluindo responsabilidades domésticas desproporcionais e falta de apoio institucional, que resultam em menos tempo para dedicar-se ao negócio”.
Margarete aponta o programa Sebrae Delas e o recém-lançado Acredita, do governo federal com parceria do Sebrae, que já avalizou mais de R$ 1,2 bilhão em empréstimos em 2024, como caminhos para superar as desvantagens impostas às mulheres pelo mercado de crédito. “Trabalhamos para destinar às empreendedoras mais treinamento financeiro, conhecimento sobre produtos e estratégias de financiamento, além de gestão empresarial de forma geral. As mulheres sofrem múltiplas camadas de discriminação na jornada empreendedora. E no mercado de crédito, que destina pouco e cobra muito delas, não é diferente “, afirma.
Ações de apoio
O Sebrae Delas é uma plataforma para atender as donas de negócios com mentorias, cursos e outras capacitações em todo o país. Já para facilitar o acesso dos pequenos negócios ao crédito, em condições adequadas e com planejamento, o Sebrae vem garantindo operações, em parceria com 30 instituições financeiras, por meio do Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (Fampe), como parte do programa Acredita, do governo federal.
A instituição oferece ainda o programa Crédito Consciente, que disponibiliza uma calculadora para os empreendedores fazerem suas análises e tomarem a melhor decisão sobre o empréstimo almejado, além de atendimento mais personalizado.
Confira os principais dados da pesquisa (1º tri de 2024):
Taxa média de juros ao ano para os pequenos negócios
Brasil
Mulheres: 40,6%
Homens: 36,8%
Ceará
Mulheres: 42,5%
Homens: 39,9%
Taxa média de inadimplência
Brasil
Mulheres: 7,6%
Homens: 7,1%
Ceará
Mulheres: 8,7%
Homens: 8,9%
Crédito concedido a pequenos negócios
Brasil
Total concedido: R$ 109 bilhões
Para mulheres: 29%
Para homens: 71%
Ceará
Total concedido: 2,17 bilhões
Para mulheres: 33%
Para homens: 67%
Número de operações
Brasil
Total de operações: 23,1 milhões
Por mulheres: 40%
Por homens: 60%
Ceará
Total de operações: 457 mil
Homens: 61%
Mulheres: 39%
Fonte: Pesquisa “O financiamento do empreendedorismo feminino no Brasil: um panorama do mercado de crédito”, do Sebrae.
Mais informações:
– Acesse o painel com os dados da pesquisa no DataSebrae: https://datasebrae.com.br/creditoempresas-sexo/
– Planeje a tomada de empréstimo com o apoio da plataforma Crédito Consciente, do Sebrae: https://sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/acredita