Guerras eternas para salvar o império, sob a direção de Al Capone

Artigo do advogado Pedro Benedito Maciel Neto, originalmente publicado no site Brasil 247:

Medidas de Trump contra o Brasil geram revolta internacional, com imprensa francesa acusando o presidente dos EUA de agir como mafioso e sabotador econômico.

Estou exausto e creio que a minha inegável irrelevância esteja me sufocando de maneira irreversível, pois os adeptos da extrema-direita são refratários a qualquer argumento racional, e a minha cruzada — escrever para “fora da bolha” — parece inútil. Poucos estão dispostos a refletir sobre o que está acontecendo no mundo, não só com o Brasil, mas no mundo.

Enquanto cerca de 77 mil toneladas de frutas brasileiras, que aguardam exportação para os EUA, correm risco de estragar ou de serem comercializadas abaixo do preço de mercado por causa da tarifa de 50% imposta por Trump, congressistas de extrema-direita comemoram a medida anunciada por Trump, que entra em vigor em 1º de agosto (há ainda a questão dos pescados, grãos e carnes).

Vivemos em estado de “guerra perpétua” ou de “guerra sem fim”. Contudo, o que parece importar aos adeptos de Bolsonaro é dizer: “e o Lula?”, “e o PT?”, “e o INSS?”.

Não se importam em procurar entender que as “guerras perpétuas” não têm racionalidade ou condições claras que levem à sua conclusão; essas guerras geralmente são situações de tensão contínua, que podem aumentar a qualquer momento — semelhante à Guerra Fria. Trump arrastou o Brasil para as “guerras perpétuas” para: (a) atacar os BRICS e dar sobrevida ao Império Estadunidense; (b) defender as Big Techs; (c) favorecer os bilionários, por meio de insider trading; e (d) afagar a extrema-direita brasileira e mundial.

Exemplos de “guerras perpétuas” são, além da Guerra Fria, a Guerra do Vietnã, a Guerra Soviético-Afegã ou guerras contra inimigos ambíguos, como a “guerra contra o terrorismo” ou a “guerra contra as drogas”. As guerras perpétuas servem para justificar atos de barbárie — sejam bélicos, sanções ou narrativas infundadas — como a sanção imposta pelos EUA aos produtos brasileiros, com provável presença de insider trading. Ou seja, uso de informações privilegiadas: a negociação de valores mobiliários baseada no conhecimento de informações relevantes que ainda não são de conhecimento público, com o objetivo de auferir lucro ou vantagem no mercado.

Ao contrário do que escreveu Nelson Hossri, a imprensa do mundo todo censurou Trump em relação às suas tarifas. A imprensa francesa, por exemplo, afirmou que a decisão de Trump, de aplicar uma tarifa alfandegária de 50% a todos os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, gera incredulidade e revolta, e afirma: “Trump, o mafioso internacional” — aliás, esse é o título de uma coluna no jornal Libération, assinada pelo jornalista Thomas Legrand.

Para Thomas Legrand, o presidente americano poderia ser o personagem principal de uma nova temporada da série de TV Narcos, “de tanto que ele transforma as relações internacionais, políticas e comerciais em um vasto campo de prevaricação, de extorsão e de ameaças violentas” — o que lembraria Al Capone ao usar uma ameaça econômica por motivos políticos e com o objetivo de “interferência descarada” na soberania de outro país.

Outro jornal, este especializado em economia, o Les Echos, trouxe uma coluna assinada por sua correspondente em Nova York, Solveig Godeluck, na qual explica que o líder republicano exige que o ex-presidente Jair Bolsonaro, seu aliado, não seja julgado por tentativa de golpe militar, e que plataformas digitais americanas, que difundem conteúdos duvidosos e antidemocráticos, não sejam censuradas. O jornal classifica a decisão de Trump como “tentativa de extorsão para interferir na política interior” do Brasil. Na mesma coluna, é possível ler que Trump está irritado pelo fato de o Brasil pertencer ao BRICS, que busca outra solução ao uso do dólar nas transações comerciais e ao domínio dos Estados Unidos no comércio internacional.

Já o canal francês BFMTV, que dedicou sua crônica de economia ao assunto, cita “a incoerência” da futura tarifa imposta ao Brasil, sob a alegação errônea de Trump de que existiria um suposto excedente comercial com os Estados Unidos. “Não vemos onde está a injustiça, já que são os Estados Unidos que registram um superávit com o Brasil, de US$ 7,4 bilhões em 2024”, apontou a emissora. Ou seja, Al Capone — digo, Trump — mente.

Pergunto aos adeptos de Bolsonaro: será que Trump está realmente cogitando interromper o julgamento de Bolsonaro ou esse é apenas um pretexto para encher os cofres dos Estados Unidos?

E Trump não está pressionando apenas o sistema de Justiça do Brasil. O sistema israelense, que julga Benjamin Netanyahu por corrupção, também está sob ameaça de Trump.

Sob ameaça de Trump, o tribunal criminal de Jerusalém decidiu adiar os depoimentos do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que é réu em um processo por corrupção, acolhendo alegações de que o premiê precisa se concentrar em questões de segurança nacional — como o corrente cessar-fogo com o Irã e os embates com o Hamas em Gaza.

Inicialmente, a Corte de Jerusalém havia rejeitado as solicitações de adiamento. Alegava que a defesa “não apresenta uma fundamentação detalhada ou motivo que possa justificar o cancelamento das audiências de instrução”. Após as ameaças de Trump, a Corte voltou atrás.

Mas voltando às tarifas: para o economista americano Paul Krugman, as tarifas são verdadeiro “Programa de Proteção a Ditadores de Trump” — aliás, esse é o título do artigo de Krugman. O vencedor do Nobel de Economia classificou a ação do presidente republicano como “maligna e megalomaníaca”. No texto, Krugman também defendeu que a ação seria “motivo suficiente” para o impeachment de Trump e diz: “Estamos vendo mais um passo terrível na espiral de decadência do nosso país.”

O economista afirmou, ainda, que o presidente dos Estados Unidos usa o tarifaço no Brasil para “fins políticos” — refere-se a Bolsonaro e seus filhos.

Tempos sombrios, e por isso pergunto: o que fazer?

Essas minhas impressões ofereço ao necessário debate.

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