Henrique Silvestre: “Privatizem a ponte!”

Por Henrique Silvestre, jornalista:

Fortaleza se vê envolvida em nova polêmica: o destino da Ponte Velha. Nem vou entrar aqui no valor histórico do equipamento, primeiro porto do Estado, por onde chegavam e partiam mercadorias e pessoas escravizadas. Ambiente que viu surgir também a rebeldia heroica de Chico da Matilde – o Dragão do Mar. Lugar também de onde partiram os Paroaras, sertanejos enganados pela promessa de um Eldorado nos seringais da Amazônia.

Quando se começou a falar em privatização no Ceará, eu estava na faculdade. Militava no movimento estudantil. Usava um argumento simples no debate sobre vender ou não o patrimônio público. “Sou a favor. Desde que se comece pelo Castelão. Afinal de contas, futebol é atividade privada”. Foram privatizadas Coelce e Teleceará – Distribuição de energia e telefonia.

O Castelão passou, desde aquela época por uma reforma e uma total reconstrução (para receber jogos da copa do mundo. Aliás, o Castelão é praticamente “o legado” de fato entregue. Os demais ainda são promessas em execução). Também se privatizou o Aroporto Pinto Martins. Além de algumas obras na área de embarque e desembarque, o grande plus foi tirar a homenagem a Euclides Pinto Martins e colocar um nome em inglês. Tipo a que fizeram no estádio: “Arena Castelão”.

Hoje o debate é sobre a ponte. Ou sobre a ruína da ponte. O Espaço foi fechado pela prefeitura, numa medida que tem por objetivo prevenir acidentes. Correto. Apesar da proibição, banhistas, pescadores, e usuários de outras coisas continuam frequentando os espaço, visto que não há fiscalização que iniba o acesso.

Mais uma vez o debate está posto.  O que fazer com aquele pedaço da história¿ Mais uma vez lanço mão do argumento: privatizem. Quem arrematar, deverá dar à ponte ares de equipamento turístico, com restaurantes, mirantes museu da jangada (cada vez mais rara no litoral da capital). Vale lembrar que ali ao lado está em obras o novo campus da Universidade Federal do Ceará.

Aliás, outra opção: a UFC poderia estender o seu campus à ponte, com equipamento aberto ao público e fechado para solenidades acadêmico-sociais específicas. Isso por que, iniciativa privada mesmo só quer o filé pronto, já temperado e marinado. Mesmo que, ao longo do churrasco, transforme, num choque, Coelce em Enel.