Do jornalista Roberto Maciel:
Io tengo amigos argentinos. Todos moram na Argentina. Todos votam na Argentina. Nenhum deles, que bom!, votou em Javier Milei.
Lembro permanentemente de todos eles com alguma preocupação sobre os rumos que o país vizinho está tomando e a velocidade em que segue rumo ao fundo do poço. Nenhum desses caros amigos tem engajamento partidário mas são todos inteligentes e conseguem identificar um vigarista a distância razoável. Sempre pergunto-lhes sobre como vão as coisas por lá, pergunto-lhes sempre se há esperanças.
“Si, amigo, esperanza siempre hay”, costumam responder-me, esperançosos, claro.
Conversando com um desses amigos, meio que o provoquei com certa acidez: “Já começou a fazer as contas do prejuízos que tomou comprando o $Libra?”. Referia-me à criptomoeda divulgada e vendida por Milei, algo parecido com um conto-do-vigário aplicado em grande escala.
Ele me devolveu, digamos assim, na mesma moeda – ou quase: “Somos como ustedes, como una mierda!”
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Esse azedume entre nós é só coisa de amigo, aviso logo. Ele não gastou um centavo sequer caindo na lábia de Javier Milei e eu não perdi nenhum tostão que valorizasse os golpistas-vigaristas que tentaram destruir a Democracia e se apossar do Brasil.
Estamos empatados.
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Observe-se, à guisa de esclarecimento: o golpe no qual Milei está envolvido deve alcançar cerca de US$ 250 milhões, sangrando os bolsos de 86% dos crédulos que caíram na jogada.
O presidente argentino, cheio de empáfia e tentando escapulir da Justiça, colocou, é lógico, a culpa na vítimas. É sempre assim, aliás:
“Se você vai ao cassino e perde dinheiro, qual é a reclamação se você sabe que o cassino tem essas características? Aqueles que participaram o fizeram voluntariamente”.
Recordei-me imediatamente dos idiotas que dizem que uma vítima de estupro foi atacada por um tarado porque usava saias curtas.
Comparar investimento a jogatina é só um artifício retórico que a pilantragem usa sem moderação. Só que são coisas diferentes, muito diferentes. O juiz que se der ao trabalho de consultar o dicionário – não precisa sem ser o Código Penal Argentino – vai ganhar muito tempo para anotar o tamanho do crime que se cometeu com a cumplicidade de um presidente vaidoso, irresponsável, ganancioso e desonesto. Não há similaridade entre escroque e investidor.
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Javier Milei, meus amigos argentinos não se iludem, fez o que pode para ganhar o mesmo status moral que tem Jair Bolsonaro, o equivalente dele no Brasil. Espertalhão do mesmo jeito, apenas seguiu um caminho distinto para encher os bolsos.
Ambos se deram mal, muito mal. E vão se dar mais mal ainda, podemos até apostar (no cassino político) e investir (na corretagem legal).
“Son la misma mierda!”