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João Filho, no The Intercept: “Tarcísio deixa claro que é golpista e um Bolsonaro 2.0”

Por João Filho, jornalista do site The Intercept:

Se havia alguma dúvida de que Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, é um golpista, agora acabou. Por muito tempo, ele se esforçou para figurar como um representante do “bolsonarista light” — esse delírio que conta com apoio maciço dos colunistões da grande imprensa. Mas rasgou-se a fantasia.

Em uma semana, o presidenciável queridinho do mainstream brasileiro disse não confiar na Justiça e foi além: articulou politicamente para afrontá-la em defesa dos golpistas condenados do seu grupo político. Se para os incautos havia alguma sombra de dúvida sobre as credenciais golpistas do governador, agora não há mais desculpa.

Quem, em 2026, voltar a dizer que Tarcísio é um candidato da direita moderada, um bolsonarista que sabe se comportar à mesa, estará brigando com a realidade dos fatos e fadado ao ridículo. Tarcísio é um golpista de quatro costados.

“Não acredito em elementos para ele [Bolsonaro] ser condenado, mas, infelizmente, hoje eu não posso falar que confio na Justiça, por tudo que a gente tem visto”, disse o governador paulista, em referência ao julgamento do líder da quadrilha golpista Jair Bolsonaro.

Mais do que isso, Tarcísio afirmou que a sua primeira medida caso seja eleito presidente da República será a concessão de um indulto ao assaltante da democracia. Trata-se de um presidenciável que demonstra desprezo pelas instituições democráticas e alto apreço pela sua gangue golpista.

Tarcísio não participou diretamente dos atos golpistas que culminaram com o 8 de Janeiro, mas acaba de se tornar um ator importante dos atos golpistas de hoje. Nesta semana, enquanto o STF encaminhou a condenação do líder da quadrilha, ele articulou com o Centrão para invalidar as decisões do tribunal através da aprovação de um projeto inconstitucional.

O movimento de Tarcísio também está em sintonia com os interesses de Donald Trump, que tem ameaçado a soberania brasileira para conseguir a anistia de Bolsonaro. O governador, que comemorou de maneira patética a eleição de Trump colocando o boné com o slogan “Make America Great Again” [“Tornar a América Grande Novamente”, em tradução livre), agora tem a oportunidade de demonstrar sua vassalagem.

Os assuntos de Brasília viraram prioridade na agenda do governador de São Paulo, que é do partido Republicanos. Enquanto o estado vive uma crise na segurança pública, com o PCC cada vez mais infiltrado na Polícia Militar e comandando escritórios na Faria Lima, Tarcísio está fora do seu reduto liderando articulações golpistas com o Centrão.

Ele também está focado nas próximas eleições presidenciais. Abraçando de vez o golpismo, Tarcísio ganha o apoio de Bolsonaro e do eleitor bolsonarista, que até então andavam desconfiados da sua fidelidade à seita. O governador sabe que a anistia é um projeto natimorto. Mesmo que passe na Câmara, está fadado a morrer ou pelo veto de Lula ou por inconstitucionalidade no STF.

Mas ele participará desse show de desespero do bolsonarismo, pois acredita que esse é o preço a se pagar para chegar forte em 2026. O governador tentará aliar o pragmatismo do Centrão com a ideologia podre do neofacismo bolsonarista.

A aposta é arriscada, já que a anistia é rejeitada pela maioria dos brasileiros. Apenas 35% defendem o perdão aos golpistas. Mas Tarcísio acredita que, para ele, só há futuro eleitoral dentro do bolsonarismo e, por isso, decidiu mergulhar de cabeça no golpismo.

Tarcísio está apostando que você vai cair na farsa dele. Que vai acreditar na máscara do “moderado” enquanto ele articula com golpistas nos bastidores.

Você vai acreditar?

Se antes o governador paulista estava consolidado apenas como o candidato do Centrão, agora tenta ser também o candidato do bolsonarismo. A vaga estava sendo preparada para ser ocupada por um integrante da família Bolsonaro, mas o movimento de Tarcísio muda esse jogo. Desesperada com a inevitabilidade da cadeia, a família Bolsonaro abriu mão da vaga em troca da aprovação de um projeto de anistia costurado por ele junto ao Centrão.

Chega a ser ridículo, porque uma anistia é impossível, mas Bolsonaro e seu clã estão desesperados como baratas após o inseticida. Se em condições normais a familícia já não age sob a racionalidade, imagine agora que está à beira do xilindró.

Tudo indica que estamos diante do fim do bolsonarismo como conhecemos. Esses são os últimos gritos de desespero do clã Bolsonaro e do núcleo duro da seita.

A ascensão de Tarcísio dentro da extrema direita representa também a derrocada da família Bolsonaro. O bolsonarismo não morrerá e continuará atormentando a democracia, mas estará sob nova direção.

Eduardo Bolsonaro tinha tudo para ser o candidato do bolsonarismo em 2026. Era só jogar parado e herdar o legado do pai, cuja prisão seria inevitável em todos os cenários possíveis. Essa era uma leitura bastante simples de ser feita, mas a profunda estupidez e inabilidade política do deputado federal pelo PL de São Paulo o levaram a uma aventura golpista internacional que fracassou miseravelmente. Se voltar para o Brasil, as chances de Eduardo ser preso são enormes e não haverá Lei Magnitsky que evite isso.

O novo movimento pela anistia nada mais é do que a antecipação da corrida eleitoral de 2026. Bolsonaro já foi rifado faz tempo, e é do interesse de todos dentro da extrema direita que ele seja preso e inelegível. Ninguém ali verdadeiramente nutre esperança pela anistia do ex-presidente, mas continuarão alimentando a fantasia, já que é a única narrativa política que lhes resta.

Ou alguém acha que Valdemar Costa Neto, presidente do PL, o partido de Bolsonaro, ficaria feliz com o ressuscitamento da família Bolsonaro no jogo político? É claro que não. O Centrão já fechou com Tarcísio faz tempo e só está esperando a nova reconfiguração do tabuleiro no pós-cadeia.

Tarcísio se dispôs a pagar pedágio para o golpismo e participar do jogo de cena da anistia. Assim, conseguirá se consolidar como o candidato da Faria Lima, do Centrão e de uma família Bolsonaro desesperada. O governador tem demonstrado que ocupará o trono do neofacismo bolsonarista com gosto e sem moderação.

Esqueçam o Tarcísio hipotético pintado pela grande imprensa. A fantasia do tecnocrata — aquele que só surfou no bolsonarismo por oportunismo eleitoral, e não por adesão ideológica — está morto e enterrado. Tarcísio será o candidato que não acredita na Justiça e insufla o golpismo. Ele não é o “bolsonarista light”, mas um Bolsonaro 2.0.

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