Joaquim Cartaxo, arquiteto urbanista, é superintendente do Sebrae no Ceará:
A produção do espaço urbano compreende processos de permanência e mudança. Complexos e dinâmicos, refletem a tensão contínua entre preservação e inovação. Daí, o desafio de equilibrar a proteção e valorização referentes à identidade e à memória urbana com a necessidade de adaptação da cidade às atividades cotidianas, relacionadas à habitação, trabalho, entretenimento e circulação em renovação constante.
Quando tratamos a permanência, convivemos com a manutenção de edifícios, monumentos e bairros históricos, com o que se mantém a evolução cultural e histórica citadina. São marcos tangíveis da memória coletiva, que proporcionam o sentido de identidade e pertencimento aos habitantes. Há, ainda, os intangíveis: tradições culturais, festas e práticas populares, que reforçam o vínculo social entre os cidadãos e os ambientes urbanos.
Já os movimentos de adaptação, pautados no crescimento econômico e na urbanização, organizam-se como poderosas máquinas que geram mudanças nas cidades. O surgimento de novas infraestruturas, o dinamismo imobiliário e a expansão territorial acomodam o aumento populacional e estimulam a economia urbana.
Ressalte-se o contexto contemporâneo em que a tecnologia, de maneira nunca vista, transforma a vida urbana de diversas maneiras. As cidades inteligentes (smart cities), que utilizam tecnologias avançadas para melhorar a eficiência dos serviços urbanos e a qualidade de vida dos habitantes, ilustram como a inovação remodela com intensidade o ambiente urbano.
As questões de natureza socioambiental também acarretam mudanças nas cidades, na medida em que estas necessitam se adaptar às mudanças climáticas, buscando promover a sustentabilidade.
Os movimentos de permanência e mudança nas cidades demandam ações que conciliem preservar o passado e construir o presente com as possibilidades do futuro. Isso requer capacidade das lideranças políticas e sociais em realizar um planejamento inclusivo e uma gestão urbana sensível às demandas da sociedade e à participação ativa da comunidade. Nesse passo, as cidades podem avançar, respeitando a sua identidade histórica e atendendo as necessidades atuais, considerando os desafios presentes e os por vir.