A introdução de uma Unidade de Referência Tecnológica (URT) para o manejo sustentável de açaizais nativos está transformando a produção de açaí em terras altas em Amapá do Maranhão, na região do Alto Turí/Gurupi, no Maranhão. A área é formada por 13 municípios e responde por 66% do açaí comercializado naquele estado, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE-2018). Liderado pela Embrapa Cocais (MA), o projeto é uma resposta à degradação dos açaizais locais causada pela falta de manejo e oferece novas oportunidades para pequenos produtores.
O trabalho de transferência da tecnologia de manejo de açaí nativo na região foi um grande desafio para a equipe do projeto, já que as formações das plantas nativas da região não ocorrem em áreas de várzeas, mas em terras altas, formando maciços de Euterpe olerácea associados a outras espécies florestais.
Historicamente adaptada às várzeas, a tecnologia de manejo do açaí precisou ser ajustada para os açaizais de terras altas, que predominam na Pré-Amazônia Maranhense. A degradação ambiental, resultado da exploração madeireira e do avanço das pastagens, reduziu a produtividade das palmeiras nativas. Essa queda coincidiu com a alta demanda por açaí, especialmente na entressafra do Pará, o que tornou a recuperação desses maciços uma prioridade econômica e ambiental.
A instalação da unidade de referência tecnológica de manejo de açaí nativo no Maranhão foi precedida de estudo para ajudar na decisão de qual melhor local de sua instalação, haja vista que o açaí ocorre na maioria dos municípios que fazem parte da região da Pré-Amazônia maranhense.
Entressafra paraense
No entanto, esse açaí tem despertado interesse dos produtores para recuperação devido à alta demanda de frutos, principalmente no período da entressafra da produção do Pará, época em que os preços atingem a maior alta. Essa realidade tem contribuído para que esses açaizais improdutivos sejam vistos como uma oportunidade para geração de renda com a adoção da tecnologia de manejo de açaizais nativos.
O projeto envolveu capacitações práticas para técnicos e extrativistas. Em uma área inicial de 0,25 hectare, os participantes aprenderam a limpar o terreno, inventariar espécies e elaborar planos de manejo que incluíam a seleção e o corte de touceiras para melhorar a produtividade.
O agricultor familiar Lauro Paiva não apenas implementou as práticas em sua propriedade, como se tornou um multiplicador da tecnologia, atraindo outros produtores interessados em replicar o modelo. Por iniciativa própria, Paiva ampliou a área para 7 hectares.
Recuperação ambiental
Além de recuperar a produtividade dos açaizais, o projeto promoveu ações de restauração ambiental. Com sementes coletadas na área manejada, um viveiro foi construído para produzir cerca de 4 mil mudas de espécies florestais nativas que serão usadas para proteger a borda da área manejada e atender outros produtores interessados em fazer a restauração florestal.
Uma estratégia usada pela equipe foi buscar parcerias institucionais nas esferas municipal e estadual com as equipes técnicas das secretarias municipais de agricultura e o órgão estadual de extensão rural, visando integrar as atividades dessas instituições ao trabalho da implantação da URT, assim como da capacitação e formação de multiplicadores na tecnologia de manejo de açaí nativo.
A escolha da propriedade onde está instalada a URT foi feita de forma participativa, com critérios claros e a participação dos representantes dos municípios. Após a visita técnica aos produtores previamente selecionados pelos municípios, a equipe elaborou uma matriz lógica com critérios e pesos diferentes para ajudar na decisão da escolha do agricultor onde seriam desenvolvidas as atividades de instalação da URT, assim como das capacitações.
“Nosso parceiro, o senhor Lauro Paiva, tem sido referência na divulgação dos trabalhos que estão sendo realizados pela Embrapa na região. Outra estratégia adotada foi a integração e parceria dos pesquisadores das Unidades da Embrapa envolvidas com a tecnologia de manejo de açaí nativo”, conta o pesquisador José Mário Frazão, da Embrapa Cocais.
Agricultores relataram que, se tivessem conhecimento da tecnologia, não teriam transformado áreas de açaizais degradados em pastagem, hábito comum de alguns agricultores. “Essa realidade está mudando e seu Lauro se tornou referência na tecnologia de manejo de açaí de terra firme na região e tem atendido às demandas de outros municípios para orientar a recuperação dessas áreas de açaízais”, acrescenta Frazão.
Com vigência até 2025, a expectativa é que os aprendizados dessa URT sirvam como base para publicações científicas e a replicação da tecnologia em outras regiões. Enquanto isso, o manejo sustentável do açaí se consolida como uma alternativa viável para a geração de renda e conservação ambiental na Amazônia Maranhense.
Em janeiro de 2025, a comunidade do Maracanã receberá uma capacitação voltada para o manejo e boas práticas de processamento de açaí. A iniciativa é fruto de uma parceria entre a Embrapa e o Instituto de Formação, que está auxiliando na seleção dos produtores participantes. O projeto, que envolve um acompanhamento técnico contínuo, já tem uma área definida e busca o engajamento dos agricultores locais. Como parte do processo, será formalizado um acordo com os produtores, destacando a importância do compromisso de longo prazo.