Artigo de Michael Michalko, especialista em criatividade e autor do best-seller “Pensamento Criativo” (Editora Hábito):
Quando somos crianças, enxergamos o mundo com um olhar de admiração e curiosidade. Cada objeto do cotidiano pode se transformar em algo extraordinário – uma simples caixa torna-se um forte, um carro ou uma nave espacial. Essa capacidade de pensar de forma não convencional e de explorar possibilidades ilimitadas é a essência da criatividade infantil. Infelizmente, ao crescermos, somos confrontados com sistemas educacionais e sociais que, muitas vezes, desencorajam o pensamento livre e original.
O sistema tradicional tende a valorizar a memorização e a conformidade em detrimento do pensamento crítico e de novas ideias e soluções. A educação formal ensina frequentemente os alunos a reproduzirem o que já foi pensado por outros. Este processo não só limita a inovação, como também inibe a capacidade das pessoas lidarem com a ambiguidade e a incerteza, elementos essenciais para desenvolver o pensamento criativo.
No entanto, existem caminhos para resgatar a essência do imaginário infantil na vida adulta. É crucial criar ambientes que incentivem a experimentação e a exploração: atividades lúdicas, como jogos e brincadeiras, podem ser integradas ao dia a dia, tanto em contextos educacionais quanto no ambiente de trabalho. Práticas de mindfulness – ou seja, atenção plena somada a técnicas de respiração profunda – também podem ajudar a reduzir o estresse e abrir a mente para novas ideias, enquanto a promoção da curiosidade e do questionamento constante pode abrir novos caminhos de pensamento.
Um exemplo prático é a técnica da combinação conceitual, que estimula a conexão entre elementos aparentemente não relacionados para criar ideias inovadoras. Imagine pensar em uma vagem e um abridor de latas ao mesmo tempo; essa combinação pode inspirar o design de uma nova lata que se abre ao puxar uma costura fraca, similar à de uma vagem. Este tipo de pensamento só é possível quando abandonamos as restrições impostas pelo pensamento convencional e permitimos que a imaginação flua livremente.
Além das práticas de incentivo, é necessário abordar as barreiras que limitam o pensamento genial e inovador. O medo de errar, muitas vezes inculcado na infância, precisa ser substituído por uma cultura que valorize a experimentação e perceba os erros como oportunidades de aprendizado. Normas sociais e expectativas rígidas também devem ser desafiadas para permitir que a individualidade e a originalidade floresçam.
Resgatar a criatividade infantil não é apenas um exercício nostálgico; é um passo essencial para fomentar inovação e resolver problemas complexos de maneira eficaz. Ao reavivar a imaginação e a coragem de explorar o desconhecido, podemos não apenas enriquecer nossas vidas, mas também impulsionar o progresso em diversos campos de atuação.