O rastro que revelou o conluio entre Trump e as big techs contra o Brasil

Da jornalista Laís Martins, no site The Intercept:

Enquanto o governo dos EUA estava preocupado em anunciar uma investigação contra “práticas comerciais desleais” do Brasil — acabou se descuidando e abrindo brecha para uma investigação do Intercept.

E tudo começa com o fato de não terem apagado seus rastros na internet, conhecidos como metadados. Essas impressões digitais revelam muita coisa. Crimes são elucidados, pessoas são presas e, às vezes, a Justiça é feita.

No nosso caso, as impressões digitais foram o ponto de partida para descobrirmos como as big techs podem estar ligadas à investigação comercial aberta pelos EUA que tem como alvo o Pix, a rua 25 de Março e os esforços brasileiros de regular as plataformas de redes sociais.

Bem, não exatamente as digitais deixadas pelos dedos de uma pessoa, mas os metadados de um PDF – o que equivale às impressões digitais de alguém que segurou um documento muito importante.

Como descobrimos isso? Fomos olhar os metadados do documento publicado no site do Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos, USTR, na sigla em inglês. Existem várias ferramentas online que permitem ver essas informações sobre o autor, hora e máquina usada, por exemplo. Geralmente, governos e empresas apagam esses metadados, já que eles podem acabar entregando informações que eles não querem que venham à tona.

Mas isso não foi feito nesse caso. Os metadados mostraram que a pessoa que criou o arquivo se chama Catherine H. Gibson. E aí mergulhamos mais fundo nessa história.

Plot twist: quem é Gibson afinal?

Aqui que a coisa fica interessante (e suspeita). Gibson não é qualquer funcionária perdida na burocracia estadunidense. Entre 2014 e 2018, ela trabalhou no Covington & Burling – um dos escritórios de advocacia e lobby mais poderosos do mundo.


E adivinha quem era cliente deles? A Meta.

Foi esse mesmo escritório que ajudou o Facebook a comprar o WhatsApp por US$ 22 bilhões em 2014. E o Instagram por US$ 1 bilhão em 2012. Duas operações que transformaram a Meta no gigante que conhecemos hoje.

Mas a coisa não para por aí.

Gibson também foi a destinatária de um email enviado em março pela Business Software Alliance, uma entidade de lobby que representa dezenas de empresas de tecnologia como a Microsoft, OpenAI e Oracle. No email, a entidade pedia que a USTR tomasse ações para identificar possíveis danos provocados por práticas e comércio desleal para “preservar os empregos” da indústria de software e a “liderança dos EUA na tecnologia”.

Traduzindo: queriam que ela usasse sua posição no governo para proteger os interesses das big techs americanas.

A porta giratória que nunca para de rodar.

Quando vimos o passado profissional de Gibson e onde ela está hoje, imediatamente ficamos de olho. Esse trânsito de profissionais entre setor público e privado, chamado de ‘porta giratória’, é algo que investigamos frequentemente no Intercept.

Essa prática levanta questões de conflito de interesse e segurança de informações sensíveis – por isso, é vista com preocupação pela potencial influência em decisões regulatórias ou investigações. Afinal, como garantir que agentes em cargos públicos não irão defender, de forma velada, interesses de corporações em que atuaram anteriormente?

No Intercept, seguimos investigando as conexões perigosas entre big techs, governos estrangeiros e suas tentativas de interferir no poder público no Brasil. Cada peça desse quebra-cabeça faz diferença.

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