Mais de 40% das brasileiras que se declararam vítimas de agressões físicas, psicológicas e verbais dos próprios maridos estão inseridas em templos evangélicos – segundo dados apontados pelo Atlas de Violência. A pauta, supostamente progressista, faz com que lideranças conservadoras cristãs tenham dificuldade em lidar com a questão. Como resultado, há uma parcela feminina das igrejas que sofre em silêncio.
É esse ponto alarmante que o mestre em teologia, pastor e um dos jovens evangélicos mais influentes da atualidade, Yago Martins, escancara no livro Igrejas que calam mulheres, lançamento pela Editora Mundo Cristão.
Ao relatar casos de violência e machismo dentro dos templos, o autor rompe a barreira com o negacionismo e denuncia interpretações distorcidas do texto bíblico que têm sido utilizadas como instrumento de opressão. Segundo Yago, no Brasil esse movimento de masculinidade bíblica em ascensão tem sido chamado por muitos de “machonaria”.
Com exemplos reais e casos concretos com os quais lidou como pastor de igreja, o autor resgata ensinamentos teológicos fundamentais para dar respostas objetivas a abordagens que acabam por silenciar as cristãs. Embasado nas Escrituras, Yago mostra na prática como a boa teologia liberta e a má produz ambientes religiosos traumáticos, controladores e abusivos.
De acordo com o teólogo, algumas igrejas usam a passagem bíblica de 1 Coríntios 6.1-8 para desencorajar as vítimas a denunciarem os agressores: Quando algum de vocês tem um desentendimento com outro irmão, como se atreve a recorrer a um tribunal e pedir que injustos decidam a questão em vez de levá-la ao povo santo? Ou seja, se embasam em um acontecimento da Bíblia em que a igreja era prejudicada por causa de questões sociais e incentivam a resolver os problemas perante os olhos cristãos, e não os levar às autoridades judiciais, vista como “descrentes”.
“As mulheres cristãs têm todo o direito de procurar ajuda civil em caso de agressão e violência doméstica. […] todo tipo de mentira é jogado na cabeça da esposa para que ela não busque ajuda, não denuncie, não ligue para a polícia. Igrejas adotam essa postura ou tratam isso como questões de regimento exclusivamente interno alegando que cristãos não podem levar outros ao tribunal, que poderiam resolver na igreja. No caso de abusos, contudo, não é assunto trivial para líderes religiosos resolverem”.
Yago Martins
Igrejas que calam mulheres não apenas desafia leituras distorcidas que induzem ao erro e situações desastrosas, mas também enfatiza que a Bíblia promove igualdade, respeito e liberdade. A obra, que conta com endossos escritos por mulheres, é um guia de clareza para compreensão correta da Palavra, a fim de levar para o sexo feminino cura e restauração, principalmente, para aquelas vítimas que nunca conseguiram encontrar uma saída perante os traumas e agressões.