Paulo Nascentes: “Rabiscos poéticos de um sem noção”

Dorvalino Mendes não sabe ao certo se é poeta, mas escreve, porque é o que traz sentido para sua vida. Professor, escritor, jornalista e bon vivant, ele espalha poemas em português e esperanto, mesmo sem a garantia de que alguém os lerá; porém, certo de que a poesia, muitas vezes ignorada pela pressa do mundo, precisa existir.

Em Rabiscos poéticos de um sem noção, Paulo P. Nascentes conduz o protagonista a uma jornada por metapoesias. Com bom humor e lirismo, o mestre em Letras questiona o papel do autor contemporâneo em um mundo onde a literatura é frequentemente colocada de lado. Dorvalino relata os desafios de alcançar o sucesso num gênero aparentemente reservado para poucos, e provoca: ser poeta é um ato de resistência? Uma teimosia?

Depois de quase morrer em Percurso às Avessas, primeiro livro em que aparece, o personagem retorna mais velho, agora na casa dos 70 anos, com novos dilemas sobre relações amorosas, familiares e de amizade, a passagem do tempo e o envelhecimento. Além disso, o filho parece seguir os mesmos passos na escrita, e o faz questionar se há espaço para mais um poeta em tempos em que até a Inteligência Artificial pode criar versos.

[…] poesia necessária? Num átimo
como sumisse a balbúrdia
sim necessária demais!
de onde o poema vem poesia é plenitude

(Rabiscos poéticos de um sem noção, p. 37)

Com uma narrativa híbrida, em 20 capítulos, o autor testa os limites entre romance, poesia e conto, e guia o leitor pelos devaneios e ironias do protagonista. Uma coletânea de versos que ecoa os pensamentos e experiências de Paulo P. Nascentes, e deixam brecha para questionamento: será que ele entrega a autoria a Dorvalino e seus amigos, todos sonhadores de um mundo mais poético? Para costurar o enredo, o autor abre os capítulos com citações de personalidades e grandes nomes da música brasileira, como Caetano Veloso, Milton Nascimento e Chico Buarque.

Se no início Dorvalino conduz a história com a leveza de quem já não tem pressa na vida, nos dois últimos capítulos, “Porralouquice escrevinhadora” I e II, ele – que já não ligava muito para gênero literário – se despe de qualquer filtro e deixa o inconsciente imperar: mistura a voz do narrador com a do poeta e autor, entre o real e imaginário. Mais do que compartilhar uma epifania, ele incentiva, a quem desejar, libertar-se de padrões e divertir-se com os próprios devaneios.

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