Ricardo Alcântara: “Tarcísio 2026 – será?

Por Ricardo Alcântara, escritor e publicitário:
Gestor vocacionado, com reputação consolidada no aparato burocrático de Brasília desde quando colaborou com a presidente Dilma Rousseff, o governador (SP) Tarcísio Freitas realiza um governo com avaliação favorável suficiente para buscar um novo mandato no Palácio dos Bandeirantes em condições razoavelmente seguras no próximo ano, já que a oposição lulista não tem força ampliada no território do Estado para se contrapor com as mesmas chances que o governador – a preço de hoje.
Ponderado, como é próprio ao seu perfil, mais executivo que político, Tarcísio não demonstra um desejo sedento de abandonar o cenário previsível de uma reeleição para continuar gerindo o segundo maior orçamento do país em troca de um muito mais acirrado e incerto enfrentamento de uma disputa presidencial contra um mandatário no posto com histórico de bons desempenhos eleitorais.
O liberal conservador, carioca de nascimento, não evita a exposição privilegiada que a menção frequente ao seu nome oferece como oportunidade de projeção para além de sua jurisdição, com um olho na sua aplicada tarefa de governar o gigantismo paulista e outro nos percentuais de aprovação do presidente Lula. Em resumo, não busca, nem evita a condição de presidenciável preferencial das forças do mercado, que já sentem o cheiro vencido do bolsonarismo raiz, desidratado pela inelegibilidade imposta ao seu protagonista, o ex-presidente negacionista.
Seria, enfim, para Tarcísio, trocar o quase certo pelo muito duvidoso quando sua experiência político-eleitoral está apenas começando e com boa vantagem. Só o fará no caso de serem bem atendidas algumas pré-condições bem definidas, a saber: uma tendência declinante na aprovação do atual presidente no curso dos próximos doze meses, por um lado e, por outro, a unidade das forças de direita, tanto moderados quanto os mais exaltados. Repito: contra um presidente bem avaliado ou com a oposição dividida já no primeiro turno, são poucas as chances da aventura.
Em entrevista recente, o secretário de Governo paulista, Gilberto Kassab, um quadro que erra pouco, disse ter ouvido recentemente do próprio Tarcísio que ele só será candidato se Bolsonaro pedir. Repare: pedir. A escolha do verbo não é aleatória: em politiquês, “pedir” significa não submeter a camisa de força. Em outras palavras, o governador aceita uma composição com termos bem definidos, numa relação afinada (sem entraves muito ruidosos) e com bom controle sobre os encaminhamentos gerais da própria candidatura.
Aí é difícil. Ainda que Tarcísio seja grato à indicação de Bolsonaro (deve a ele o próprio posto) e reconheça a importância decisiva de seu apoio no quadro tão polarizado, o governador, de estilo mais pragmático, não conseguiria conter o caráter extremista – e, portanto, frequentemente impróprio – de seu tutor e de seu círculo de celerados, a começar pelos familiares.
Tarcísio não ataca, como faria gosto ao bolsonarismo raiz, o ministro Xandão, personagem satanizado por eles. Tampouco fez pressão sobre a bancada paulista em Brasília para acelerar o projeto da anistia – outra queixa murmurada pelos filhos do capitão. E acaba de obter boa medida do tamanho da bronca, no caso do tarifaço de Trump: ao defender uma iniciativa de diálogo com a embaixada dos EUA em favor da redução do percentual (o mínimo que se poderia esperar do governador do maior estado exportador), foi publicamente confrontado pelos filhos de Bolsonaro, que só aceitam uma moeda de troca na dissolução da crise: a pré-anistia (já que sequer foi condenado ainda) para seu papai…e o país que se lasque. 
Há um déficit de sobriedade no bolsonarismo que algumas forças, sobretudo na elite econômica, já não parecem dispostas a patrocinar. Tarcísio se esforça para corresponder a essa expectativa, mas já encontra grande dificuldade em conciliá-las com o que dele se espera no ambiente radicalizado da extrema direita, onde manobras de conciliação não são vistas com muita simpatia. E este é o ponto: os radicais são protagonistas por definição. Como coadjuvantes, são problemáticos e seu apoio implica em elevado custo.

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