Por Roberto Maciel, editor do Portal InvestNE:
Sou de uma geração que cresceu encantada com detetives, cowboys e agentes secretos. Éramos heróis, os nossos cavalos só falavam inglês e nossas armas cuspiam fogo, afinal.
Somos, por assim dizer, crias da obsessão das indústrias ocidentais de cinema e TV que eclodiram na e após a guerra fria. O pessoal lá, velhaco como ninguém, somava doutrinação ideológica com a arte de ganhar rios de dinheiro. Produzia-se lixo ou quase isso, mandava-o embalado para o terceiro mundo e, zaz!, estava feita a mágica de multiplicação de dólares e de bobalhões – nós – seduzidos pelo maniqueísmo hollywoodiano.

E tome tiroteios (com mocinhos de excelente pontaria e vilões, ora russos, ora chineses, ora americanos pretos, péssimos de mira), perseguições em carros velozes, sopapos em gente mal-encarada, mulheres belas e sedutoras, cassinos elegantes, espetaculares dobermans. E tome Charles Bronson e Clint Eastwood em diferentes personagens, Kojak (foto acima), Barnaby Jones, Magnun, Serpico, Baretta, Police Woman, Panteras, Dama de Ouro, Arquivo Confidencial, McGiver. Tudo isso em horário nobre.
Fui – fomos – ensinados de que os policiais são do bem e os bandidos, é óbvio, são do mal. Estamos desaprendendo isso da forma para penosa.
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Aí nos aparece um ex-PM paulista com expressões de chacineiro – até se gabando de ter matado muita gente -, trejeitos de psicopata e pose de justiceiro. O sujeito, com essas “credenciais” apresentadas a eleitores apavorados pela violência, consegue se eleger deputado federal e acaba secretário de Segurança do Estado de São Paulo. Chama-se Guilherme Derrite, um bolsonarista que faz questão de confundir para a opinião pública os crimes que cometeu com a instituição da justiça.
Dias após a Polícia Federal fazer uma megaoperação no centro financeiro de São Paulo, desbaratando relações entre operadores de investimentos e líderes de organizações criminosas; e de o governo do Rio de Janeiro cometer uma chacina de 121 mortos numa região favelada, Derrite é chamado à Câmara dos Deputados.

O deputado licenciado para ser executivo da Segurança recebe a missão de mudar, tintim por tintim, projeto do Ministério da Justiça que revigora instituições policiais e enrijece penas para criminosos. Sim, coube a Guilherme Derrite a missão de enfraquecer, por exemplo, a Polícia Federal e de tornar menos graves as punições para bandidos. Foi tarefa dada pelo presidente da Casa, Hugo Motta, subalterno do antecessor, Arthur Lira.
Sabe o leitor o que aproxima mais Motta, Lira e Derrite? Fácil: a veia pulsante do bolsonarismo, a verve da extrema-direita que, por razões as quais ainda se desconhece, tenta exterminar os instrumentos legais do País – como a PF e as polícias estaduais.
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Somos, eu e muitos, de uma geração que viu na TV mocinhos demolindo biltres, às vezes com punhos fortes e moral elevada. Não é o que assistimos agora na vida real.


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