Por Roberto Maciel, editor do portal InvestNE:
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrenta, segundo pesquisa do instituto Atlas Intel, desaprovação incomum para toda as gestões que cumpriu. Tem 53,7% de rejeição. É alto demais e não é nada confortável. Nem Bolsonaro, quando zombava de pessoas que morriam de covid-19, negava vacina contra a doença e tinha aliados que boicotavam oxigênio para Manaus (AM), provocando uma carnificina sem igual, deparou-se com indicador tão ruim – pelo menos pesquisa nenhuma apontou isso.
Ações de Lula não parecem se refletir nos números da Atlas Intel. PIB crescendo 1,4%? Dane-se! Pé-de-Meia? Pra quê estudo? Ampliação da transposição do São Francisco? Ora, ora… Desemprego diminuindo? O que importa? Mais verbas para as universidades, para a arte, para a cultura? Que bobagem!
Estaria o problema nas filas do INSS ou no roubo cometido contra aposentados por quadrilhas de escroques? Talvez? Estaria na Imprensa com os bolsões de tucano-bolsonarice que tem? É possível que sim.
Mas há um outro desafiador bloqueio imposto a cada projeto que o Planalto desenvolve. Pouco importam o fundo social que possa vir a ter, a relevância para o cidadão de menor renda ou a perspectiva de mudanças para jovens e adultos, agora ou no futuro, que a iniciativa apresente. É legítimo supor que o público ao qual se destinam prioritariamente as ações não enxerga convenientemente o que está sendo proposto.
Onde está o nó? Está nas redes sociais, nas quais botam discursos de ódio e fake news? Está na dificuldade de diálogo com a sociedade? Na incapacidade de transmitir mensagens de forma eficiente? Na falta de renovação entre os nomes do progressismo?
É possível, porém, que esteja parte do engodo nos templos religiosos. Altares de entidades como Shalom (católica) e Vitória em Cristo, Lagoinha, Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Mundial do Poder de Deus e Bola de Neve, entre outras, distribuem sermões violentos, odiosos e odientos, alguns mais submetidos à fala truculenta do finado ideólogo fascista Olavo de Carvalho do que à Bíblia, na mesma proporção em que enchem os cofres com dinheiro dos fieis.
Confunde-se a retórica religiosa com a discurseira inflamada de gente como Marcos Feliciano, Nikolas Ferreira (cujo primo foi preso nesta semana com 30 quilos de maconha), Silas Malafaia, Pablo Marçal e Fábio de Melo – especialistas em rancor mas, imagina-se, a contar pelo conteúdo do que espalham, completos desconhecedores dos princípios cristãos.
É nas igrejas que se processam com força o preconceito e a ignorância. Muito mais do que no sagrado e inquestionável descontentamento de quem foi vítima dos larápios que rondam o INSS. É onde se demonizam Luiz Inácio Lula da Silva e a esquerda. Esse é o fato: se Lula quiser conhecer mesmo a origem da rejeição que enfrenta, às vésperas dos 80 anos, deve voltar os olhos e os ouvidos para o pentecostalismo que prospera de forma descontrolada no País.
E, se quiser contê-la, que invista na Educação, no equilíbrio e na sensatez.