A gente andava de mãos dadas pelo Centro da Cidade aos sábados e eu me espantava com a quantidade de pessoas com quem ele falava. Era gente demais, creiam. Palavras sempre seguidas de sorrisos, às vezes de cumprimentos que dependiam da proximidade física do momento. Lembro bem que o estimado e persistente Ferroviário Atlético Clube costumava estar nas conversas rápidas e alegres. A Secretaria da Fazenda, na qual trabalhou por 40 anos, também.
Ia ali meu pai, Fernando, com passos seguros e certeiros, como que se equilibrando sobre as linhas finas entre os ladrilhos do piso. E eu seguia tentando copiá-lo.
Ele me levando.
Passávamos na calçada do São Luiz, atravessávamos a Major Facundo, seguíamos pelas bancas de revistas nas pequenas partes sombreadas da Praça do Ferreira, até alcançarmos o lado sul, onde há ainda hoje uma incomparável, saborosa e leonina fartura de pastéis e caldo de cana, íamos depois ao lado norte, conversar com o Bidon, o Pinheiro e o Eduardo, amigos de longas datas e colegas na Faculdade de Direito.
Meu pai tinha um jeito curioso de rir. Não era de gargalhadas, mas ria honestamente e sem reservas, sacudindo os ombros e olhando bem para quem dizia ou fazia uma graça. Era um camarada (palavra que ele dizia sempre!) transparente, pacífico e sedutor, nas melhores e menos vulgares acepções que essas expressões possam ter – é isso parte do que o tornava tão especial, estou certo.
Hoje, já há quatro anos sem tê-lo para me conduzir, sigo nunca esquecendo dele, lembrando à toa de detalhes, do que gostava de fazer, de falar, de ver e de ouvir.
Saudades, pai. Ainda tento – com muito amor e admiração – imitá-lo a cada passo.