Sócrates, considerado um dos fundadores da filosofia ocidental, não deixou nenhuma obra escrita registrada em seu nome. Naquela época não se guardavam materiais, ou só com muita dificuldade, e acredita-se que ele preferia passar o vasto conhecimento de forma oral. Assim, confiou aquilo que sabia aos seus discípulos. Coube a eles, então, transmitirem por escrito o legado do ateniense.
Um dos pupilos do filósofo grego foi Xenofonte, amigo desde a adolescência. Em Ditos e Feitos Memoráveis de Sócrates, que ganha nova edição pelo Grupo Editorial Edipro com tradução e notas de Edson Bini, o historiador apresenta a essência do pensamento socrático em uma obra que oferece um retrato biográfico da figura que moldou o pensamento ético e moral.
Com uma abordagem prática e centrada na moralidade cotidiana, Xenofonte discute a busca incessante pela verdade. Ele descreve a personalidade complexa de Sócrates, captura o cerne dos ensinamentos do filósofo e explora questões de virtude, justiça e a verdadeira natureza da sabedoria.
O autor também explicita sua versão das ideias do filósofo sobre felicidade, amizade, forma de alimentação, bens materiais, riqueza e outros temas. Dividida em quatro volumes, a obra comenta, ainda, o julgamento de Sócrates (acusado e condenado por “corromper a juventude”) e traz análises dos discursos proferidos pelo professor.
Seguindo uma linha semelhante de raciocínio, Sócrates mostraria quão inaproveitável é uma reputação de riqueza, de coragem ou de força quando é imerecida. […] “Aquele que te convence a emprestar-lhe dinheiro ou bens, e então [não os devolve,] conservando-os para si, é certamente um velhaco, mas o maior de todos os velhacos é aquele que induziu seu Estado a crer que ele está apto a dirigi-lo.”
(Ditos e Feitos Memoráveis de Sócrates, p.56)
Em uma jornada pela mente de um dos maiores pensadores da história, o autor elogia a personalidade de Sócrates tanto na vida pública (cidadão exemplar e homem religioso devoto) quanto no que se refere ao indivíduo (esposo protetor e pai zeloso). Xenofonte destaca que o mestre nunca abria mão do princípios e sempre deixava esses valores implícitos em discursos e ações, raramente de forma direta. Ideal para leitores que desejam compreender a influência do filósofo atemporal, este livro é um testemunho espontâneo de um dos personagens emblemáticos da história.