Do jornalista Paulo Motoryn, no site The Intercept:
Cinco anos depois, a história se curva à verdade mais uma vez: Bolsonaro, que chegou ao poder montado na Lava Jato, será preso.
Na última terça-feira, 10 de junho, Jair Bolsonaro sentou frente a frente com Alexandre de Moraes. Estava cercado por generais, advogados e aliados.
Foi ouvido no processo em que, como o país inteiro sabe, será condenado e preso por tentar dar um golpe de Estado.
A cena, por si só, já seria simbólica. Mas ela ganha outra dimensão quando se percebe o detalhe: o depoimento aconteceu um dia depois do aniversário de cinco anos da Vaza Jato.
É mais do que uma coincidência. É um lembrete do real motivo de sua prisão.
Bolsonaro não está a caminho da cadeia por ter planejado, com militares, assessores e empresários, a derrubada do resultado eleitoral de 2022. Ele só está no banco dos réus por causa do que aconteceu em 9 de junho de 2019.
Naquela noite, o Intercept Brasil publicou a primeira reportagem da Vaza Jato. E, com todo respeito ao que veio antes e depois, deu início à série de reportagens mais importante da história do país.
O jornalismo mostrou, com provas, que Sergio Moro jamais foi um juiz imparcial. Que atuou em parceria com a acusação para prender Lula. Que interferiu deliberadamente no processo eleitoral de 2018, abrindo caminho para a ascensão de Bolsonaro.
A Vaza Jato desmanchou a farsa da Lava Jato e rompeu o pacto de silêncio que sustentava Moro como herói. Sem ela, Moro ainda seria ministro da Justiça. Lula estaria inelegível. Bolsonaro seguiria blindado. O golpe não teria tido obstáculos. Mas o jornalismo mudou tudo.
Por causa do nosso trabalho, o STF declarou Moro parcial. As condenações de Lula foram anuladas. E Bolsonaro perdeu seu escudo.
Agora, cinco anos depois, a história se curva à verdade mais uma vez. O homem que chegou ao poder montado na fraude judicial revelada pela Vaza Jato está diante do Judiciário — não mais como beneficiário de um conluio, mas como réu por crime contra a democracia.
Bolsonaro está cercado, sem foro, sem poder e sem os cúmplices que o protegiam. Isso só foi possível por causa do nosso jornalismo. Porque o Intercept Brasil escolhe, há quase dez anos, enfrentar os poderosos.
E porque, naquele 9 de junho, a história se dobrou à verdade.