Opinião: “Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor”

Opinião: “Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor”

Artigo do jornalista Osvaldo Euclides Araújo, originalmente publicado no site Segunda Opinião:

O artigo “Uma estratégia bipartite como solução para o desemprego”, de autoria de Mucio Tosta Gonçalves, 
Luiz Gustavo Couto Gomes e Maria Gabriela Carvalho Giordani, postado há dois dias aqui no Segunda Opinião, é uma luz solar que se acende no escuro da pobreza do debate sobre o enfrentamento do desemprego, sobre a solução do problema (dramático na juventude). O texto explica a inércia dos economistas e faz uma proposta simples de entender: usar o Terceiro Setor (aquele setor da sociedade que não é governo e é privado mas não busca lucro) para criar oportunidades de trabalho.

Lembrei os tempos de professor universitário. Nas aulas sobre este tema, os alunos e alunas prestavam especial atenção, esqueciam o celular e abriam bem os olhos. Quando explicava que havia vantagens em criar uma ONG, comparado com criar uma empresa, passar num concurso ou conseguir um grande emprego, eles pediam pra explicar o porquê. Não sei se meus argumentos convenceram. Eu perguntava desafiador (e sutilmente argumentando): vocês sabem quais são os três problemas principais do seu bairro? vocês têm alguma proposta de como resolver ou enfrentar? quem poderia ser parceiro nesta jornada— o padre, o vereador, os empresários do bairro, o governo do estado, a prefeitura …? E encerrava: percebem como uma ONG pode nascer e crescer com base na vontade de enfrentar questões sociais, urbanas e culturais do território de vocês? E que este tipo de “empreendimento” é necessário, indispensável? E que hoje já há editais públicos com oferta de financiamento acessível nas três esferas do poder, para ONGs e seus projetos nas diversas áreas carentes? Eu dizia para eles criarem um grupo de jovens do bairro e começar a debater e a planejar…que tal criar um coral, formar uma banda, treinar um grupo de dança? Quem sabe fazer uma feira de artesanato, um teatro ao ar livre, um festival das vovós ou dos netos e netas?…oferecer uma mini-escola de reforço…são tantas as necessidades e desejos, são tantos talentos…

Não tive certeza do acerto dessa abordagem da aula até que um professor me pediu pra dar para a turma dele (imensa! um auditório cheio) uma palestra sobre o tal “terceiro setor”. Disse o colega: eles pediram.

E numa das turmas, um grupo de dez alunos e alunas criou formalmente (passando em cartório de registro civil) uma OSCIP (organização da sociedade civil de interesse publico) elegendo conselho, diretoria e aprovando um estatuto.

Volto à sugestão dos três mestres. Encantadora. Também rigorosa, consistente. E inteligentemente simples. São tantas as carências da nossa gente! E elas jamais serão devidamente enfrentadas pelo primeiro e pelo segundo setor (governo e empresas).

No terceiro setor não se costuma falar em emprego, o corrente é citar oportunidade de trabalho e renda. E o custo dessa oportunidade de trabalho e renda nesse tipo de atividade é sempre mais baixo, muito mais baixo, por causa de suas particularidades. E também é muito mais fácil. A demanda é infinita. E as tecnologias sociais já estão dadas.

Essas carências são silenciosas. A demanda é latente. Só está esperando a oferta.

O Terceiro Setor pode, deve e precisa ser muito forte numa terra injusta como a nossa, para uma gente empobrecida como a nossa. Até porque só ele pode ter a agilidade e a vocação para atacar os erros específicos dos governos e só ele pode dedicar-se a grandes objetivos sem a ânsia exagerada do lucro e da acumulação sem medida. As causas sociais são o campo natural da ação de ONGs. É importante que fique claro: tanto governante quanto empresário se interessam por bons projetos do Terceiro Setor, há complementaridade entre os três setores. O poder público e o empresariado privado são parceiros naturais e financiadores regulares do Terceiro Setor.

Finalmente, imaginem o bem que essa atuação no Terceiro Setor fará aos jovens no começo da vida adulta e profissional. Como disse o poeta: chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor.

Que lhes seja dada esta oportunidade!