Texto do jornalista Roberto Maciel, editor do portal InvestNE:
O deputado André Fernandes (PL) é corajoso como poucos na arte de proclamar a própria ignorância sobre Fortaleza e as demandas locais – sim, tamanho esmero só pode ser considerado como “arte”, frente à forma caprichada de formulação. Ele tem prazer nisso, só pode.
E esse ignorância não é pequena, rasa ou estreita. André agora apareceu na propaganda gratuita com uma história de acabar com os estacionamentos Zona Azul caso seja eleito prefeito. Se a Prefeitura de Fortaleza tomasse decisão desse calibre, estaria mesmo era aumentando o caos na cidade. Seria algo próximo do caos apocalíptico.
Mais ainda: poderia estar ajudando a criar o que nos anos 1970 a Imprensa e vereadores chamavam de “currais de carros” – espaços privados, mas ilegais, sobretudo no Centro da cidade, que se prestavam de estacionamento mas não cumpriam lei nenhuma.
Veja só o que define a legislação sobre a Zona Azul: “Tem como objetivos fundamentais a racionalização e a universalização do uso das vagas localizadas em vias e logradouros públicos do Município de Fortaleza, imprimindo uma maior rotatividade de usuários”. É um instrumento previsto no Código de Trânsito Brasileiro, aliás.
Um pouco de história
A Zona Azul existe em Fortaleza há cerca de 50 anos. Foi instituída aqui logo após a cidade de São Paulo implantar a de lá.
O modelo passou pelas gestões de Evandro Ayres, Luiz Marques, Lúcio Alcântara, José Aragão, César Neto, Barros Pinho, Maria Luiza, Ciro Gomes, Juraci Magalhães, Antônio Cambraia, Luizianne Lins, Roberto Cláudio e José Sarto. Se fosse viável extingui-la já não teria sido?
O sistema Zona Azul é uma solução técnica para o tráfego. Funciona com o mesmo feitio em várias cidades. Além de garantir rotatividade das vagas públicas – evitando que alguém estacione num ponto às 8h, por exemplo, e só saia às 18h, ocupando um espaço de uso comum por 10 horas -, previne engarrafamentos e ajuda na segurança do trânsito. E ainda contribui com o erário municipal. Qualquer estudante de Engenharia seria capaz de ensinar isso a André.
Hoje, o dinheiro que a Zona Azul carreia para os cofres da Prefeitura de Fortaleza é aplicado exclusivamente para a Política Cicloviária do Município de Fortaleza, conforme lei de 2018 proposta e sancionada por Roberto Cláudio.
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A rigor, essa ameaça de André Fernandes não deriva de outras com viés bolsonarista. Responsabilidade, no fim das contas, não é o forte dessa corrente política.