Comentando o card que anunciava a minha participação no Clube das Musas, – evento de literatura sob coordenação da artista Mona Gadelha, encontro de escritoras mulheres para apresentar-se e trocar com o público – , escreveu o amigo de Brasília a pergunta que calou em mim: você vai cantar o quê? Respondi que não ia cantar. Era para ser uma espécie de palestra a três.
Não sei se a nomeação do encontro, se a presença da Mona, se a composição das três fotos, o fato é que muita gente me fez pergunta semelhante. Ao relatar à minha mãe essa energia de música sugerida pelos leitores e não só, ela lembrou, divertida, os nossos progressos no grupo coral. Na verdade, cresce mais a vontade de acertar que o acerto, porém, prosseguimos sem nem cogitar desistir. Até achei que melhorei, um tico, ao entoar umas e outras no aniversário de um outro amigo, acompanhando, tímida, um tocador
veterano. Amo muito cantar e a curiosidade dos perguntadores encanta-me.
Até que não seria má ideia? O amigo de Brasília insiste que sou bem capaz de cantar o que quiser. É generoso e faz-me rir com gosto. Não é que cantei? Uma frase, somente, da canção “Retrovisor”, de Fausto Nilo. Integrava a crônica de minha autoria que li em voz alta, para os ouvintes presentes. Cantei nervosa, encabulada, meio medrosa de desafinar, ao mesmo tempo convicta de que não posso o que quiser, contudo, posso alguma coisa, se arriscar. Em suas falas, minhas filhas dizem que o meu canto existencial as inspira e fortalece. Como o fazem espontaneamente, obviamente choro e desejo um show inteiro, com banda, luzes, performance.
“O Homem Falou” (*) certamente faria parte do repertório. São as lutas. As madrugadas de trabalho ou farra que se varam. Abençoados pelo sono e pela falta dele. Pegar o sol com a mão é trama de poeta popular, em descida do São Francisco, no rumo do mar. Após navegar o Riacho do Navio e o Rio Pajeú. Nós palmeamos chão árido, fértil, nadando o
desafio contras as águas, no retorno à aldeia nossa de cada vida.
* Canção de Gonzaguinha, regravada por Maria Rita: Pode chegar que a festa vai é começar agora…
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Tuty Osório é jornalista, especialista em pesquisa qualitativa e escritora.
São de sua lavra QUANDO FEVEREIRO CHEGOU (contos de 2022); SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA (quadrinhos com desenhos de Manu Coelho de 2023) e MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA, dez crônicas, um conto e um ponto (crônicas e contos, também de 2023).
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