A crônica da Tuty: “Caça-palavras”

Texto da jornalista Tuty Osório:

Histórias são para ser contadas como forma de seguir a vida. Sou colecionadora delas. Roubo, peço emprestadas. Muitas, ganho de presente. Mesmo as roubadas, peço licença aos protagonistas. As palavras andam fugidas, o sentido esconde-se, veste roupas que nos confundem.

Não vou desistir da aventura de encontrar, compreender ou acreditar que entendo algo. Viver é dádiva e missão. Frase feita. Melhor tê-la, mal ou bem. No grupo da família, vieram recordações de nomes antigos de bares. ARMÁRIO, ARMAZÉM, FLOR DA PELE, CIO DA TERRA, ANÍSIO, SOVACO DA COBRA. Uns conheci, outros não. Todos queriam significar e preencheram dias e noites de cantoria, poesia, debates eruditos, alguns nem tanto. Bom lembrar. Tema atual, é a conversa longa sobre EDUCAÇÃO. Do que se trata, afinal? Retórica dos políticos, anda mal tratada por quem finge dela cuidar. Sofrem as crianças e os jovens. Abisma-se o presente, cruelmente atirado num calamitoso futuro.

Um especialista disse em entrevista que educar é transcender. Não se educa para a acomodação. Para a adequação ao tradicional. Educar é fazer diferente, melhorar o mundo, incluir, crescer, superar. Digo às minhas filhas que é preciso coragem para assumir o diverso, respeitar o que não é espelho.

A paz pode estar na inquieta busca do respeito e da contemplação do que nos afeta porque é revolucionário. A paz do abraço que a compartilha, que a faz compaixão. O risco de não ser egoísta. A reconstrução do coletivo, do comum. Voltemos a ser muitos, de mão dadas.

Viremos de frente, novamente. Não sei dizer quando, porém, sinto que já houve um tempo em que o vizinho era como um irmão. Aproximemo-nos, pois, em retorno a nós e aos outros. Conversa fiada, essa minha. Falta de bar. Abstinência de encontros. Seja o que for, esse balaio está mais para beijos que para lágrimas. Mais para domingo que para segunda. São Pedro, não perde as chaves. Referência pode mudar, transgredir, bagunçar. O alfabeto até colide, bagunça os verbetes, troca as tintas.

Mas guardião será eternamente guardião. Cuide bem do seu.

*** ***

Tuty Osório é jornalista, especialista em pesquisa qualitativa e escritora.

São de sua lavra QUANDO FEVEREIRO CHEGOU (contos de 2022); SÔNIA VALÉRIA, A CABULOSA (quadrinhos com desenhos de Manu Coelho de 2023) e MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA, dez crônicas, um conto e um ponto (crônicas e contos, também de 2023).

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