Artigo do Roberto Maciel: “Foi sem querer querendo: atirei no que vi, acertei no que não vi”

Texto do jornalista Roberto Maciel, editor do portal InvestNE:

Talvez a minha bola de cristal tenha funcionado sem que eu a acionasse; ou tenha baixado em mim um espírito de vidente; ou foi a mais pura coincidência, o que há de atrair a concordância daqueles de menor fé. Sei lá.

O fato é que atirei no que vi e acertei no que não vi.

Escrevi assim para abrir a Coluna por meio da qual converso com os leitores do portal InvestNE e do jornal Opinião – a qual encerrei por volta das 14 horas de ontem e está publicada nesta quinta-feira: “Ninguém se iluda achando que os efeitos da gestão de Jair Bolsonaro se extinguiram quando, em 30 de dezembro de 2022, ele fugiu num avião para Miami e abandonou a Presidência da República um dia antes do estipulado em lei. Nem quando quadrilhas de perigosos criminosos e criminosas foram presas por vandalizar prédios públicos em 8 de janeiro de 2023 e tentar destruir a Democracia. Ao contrário. Os danos ao País e aos cidadãos permanecem e ainda deverão ser sentidos por muito tempo”.

O título era “‘Grito de alerta’: o Efeito Bolsonaro ainda será sentido por muito tempo”

Logo em seguida, registrei uma operação policial que prendeu um CAC (sigla para “colecionadores, atiradores e caçadores”) que, na verdade, era um traficante de munições e armas que abastecia uma facção. 

Mas eu poderia ter escrito sobre Francisco Wanderley Luiz, o vulgo “Tiu França”, sujeito que tentou explodir o Supremo Tribunal Federal e a Câmara dos Deputados na noite de quarta-feira. Bastava que eu soubesse, claro. 

É aí que está a questão: alguém sabia. Sabia e não disse, pelo menos ainda. Quem vendeu a ele quilos de fogos de artifício sabia, certamente, que não se tratava de um freguês se antecipando para o réveillon. Quem trocava mensagens com ele, assim como os que compartilhavam as que “Tiu França” postava, de teor terrorista, sabia que não havia ali respeito ou admiração pelas vítimas das agressões e das ameaças. Quem conversava com ele não ignorava, sem dúvida, a carga de ódio, rancor, frustração e violência que aquele homem tinha.

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Em outro trecho da Coluna, escrevi o seguinte: “No mandato de presidente, Bolsonaro editou mais de 40 decretos para facilitar acesso de civis às armas. ‘Defendemos o armamento para o cidadão de bem porque entendemos que a arma de fogo, além de segurança pessoal para as a famílias, também é segurança para a nossa soberania nacional e garantia de que a nossa democracia será preservada, não interessa os meios que porventura tenhamos que usar, a nossa democracia e a nossa liberdade são inegociáveis’, disse”.

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Enfim, alguém sabia que “Tiu França” faria o que fez. Ou supunha se possível. Ou esperava. Quem entorta corações e mentes de um jeito tão intenso conhece muito bem os efeitos do ato, da orientação, da lavagem (ou sujeira) cerebral que promove. Sabe das consequências e trabalha por elas.

Alguém sabia do potencial terrorista de Francisco Wanderley Luiz e o estimulou. Que ninguém se espante se outros “tius” aparecerem por aí.

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