Mulheres sofrem mais com problemas do sono, aponta estudo

 

Mulheres precisam de mais tempo de sono do que os homens?

Texto de Thais Szegö, da Agência Einstein:

A dança dos hormônios que acontece no corpo feminino desde a puberdade traz impactos em todos os aspectos da saúde das mulheres, inclusive em relação à qualidade do sono. Essa foi uma das principais conclusões de uma pesquisa publicada recentemente na revista científica Sleep Medicine Reviews.

Mas qual a relação do sono com essas alterações hormonais? São muitas. Por conta do aumento da progesterona durante a menstruação, por exemplo, ocorre também o aumento da sonolência diurna. Já as cólicas também influenciam, especialmente quando são mais intensas e podem levar a interrupções do descanso.

“A regularidade do ciclo também conta, pois dados mostram que as mulheres com ciclo irregular têm duas vezes mais risco de sofrerem com problemas para dormir e de qualidade do sono”, diz Hachul, que é professora livre-docente chefe do setor de Sono da Mulher da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e pesquisadora do Instituto do Sono.

Quem convive com a síndrome pré-menstrual, popularmente conhecida como TPM, pode ter a qualidade do descanso ainda mais comprometida, aumentando a insônia e a sonolência durante o dia, especialmente por conta das oscilações de humor, que deixam a mulher mais ansiosa, por exemplo. Mas isso varia de pessoa para pessoa, de ciclo para ciclo e conforme o momento de vida em que ela se encontra — quanto mais estressada, por exemplo, mais dificuldade em relação ao sono.

A gestação é outra fase que mexe bastante com o sono. O primeiro trimestre normalmente é bem agitado, já que envolve enjoos e idas frequentes ao banheiro. Com a chegada do segundo trimestre, as coisas tendem a se acalmar. No terceiro, o aumento abdominal provocado pelo crescimento do bebê começa a pressionar a bexiga, obrigando a gestante a sair da cama mais vezes para fazer xixi, além de causar dificuldade respiratória, que deixa o sono fragmentado.

As grávidas com pressão alta ainda têm mais risco de sofrer com apneia. “Cerca de 46% das gestantes têm alguma queixa do sono e quanto mais frequentes elas forem, mais risco de acontecerem piores desfechos neonatais”, alerta Helena Hachul.

Período crítico

Mas é com a chegada da menopausa que o sono das mulheres costuma mudar para valer. “As alterações são mais evidentes e constantes após a grande queda hormonal que acontece nessa fase”, diz a pneumologista e especialista em medicina do sono Luciane Impelliziere Luna de Mello, professora do curso de pós-graduação em medicina do sono do Hospital Israelita Albert Einstein e médica do Instituto do Sono, ligado à Unifesp.

Além dos fogachos (ondas de calor) e do aumento da frequência urinária, que podem deixar o descanso fragmentado, as mulheres têm que lidar com alterações sociais e emocionais, como depressão, ansiedade e síndrome do ninho vazio, provocada pela saída dos filhos de casa, entre outras.

Existem ainda evidências científicas que apontam que os hormônios femininos têm um papel importante no relógio biológico. “Por todas essas razões, a incidência de insônia, que antes da menopausa era de 30%, pula para 60% na pós-menopausa”, relata Hachul.

A apneia também é um problema mais frequente nessa fase da vida. “A mudança na distribuição de gordura corporal característica desse período, que faz com que ela passe a ter um acúmulo maior na região da cintura, é determinante, pois a cada centímetro a mais de circunferência abdominal, o risco de apneia aumenta em 5%.”

Sobrecarga também prejudica o sono

As mulheres também costumam, em diferentes fases da vida adulta, acumular mais tarefas do que os homens. A obrigações e preocupações com o trabalho, a casa e os filhos fazem com que elas, na maioria das vezes, tenham menos tempo para dormir. E, quando chega a hora do descanso, muitas não conseguem relaxar, pois ficam pensando em tudo o que têm que fazer no dia seguinte.

Além das questões práticas, existem as emocionais que também tiram o sono da mulherada. “Elas são mais sensíveis a distúrbios de humor, como depressão e ansiedade, e às questões ligadas ao acúmulo de tarefas, o que faz com que sofram com mais insônia por causa desses fatores”, afirma Mello.

Por todas essas razões, médicos precisam ter um cuidado extra ao analisar e tratar o sono das mulheres. “Temos que avaliá-las como um todo, verificando como estão seus hormônios e seu ciclo menstrual, qual é o seu momento de vida, com quem mora, se divide as tarefas, se toma remédios, se tem outras doenças, entre muitos outros fatores, pois tudo isso influencia”, afirma Hachul.

“Outra questão que temos que levar em conta é que elas, muitas vezes, subestimam as questões respiratórias que desencadeiam a apneia, o que, em muitos casos, só identificamos ao fazer uma polissonografia, exame que analisa o sono”, complementa Mello. Isso é preocupante porque, mesmo com quadros mais leves, as mulheres já apresentam sintomas como ronco e pausas respiratórias, que podem provocar engasgos e breves despertares.

No que diz respeito ao tratamento a distúrbios do sono, além das estratégias medicamentosas, que devem ser avaliadas individualmente, também devem ser considerados os cuidados relacionados à higiene do sono. Entre eles estão: dormir sempre no mesmo horário, fazer refeições leves à noite, tomar café apenas até o horário do almoço, não ficar no celular ou no computador até tarde, evitar exercícios físicos intensos perto da hora do descanso, deixar o quarto escuro e só ir para a cama na hora de deitar. “Também é importante se hidratar bem e ter uma alimentação saudável, já que, para uma boa noite, é essencial termos um bom dia também”, conclui Hachul.

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