Artigo do jornalista Roberto Maciel, editor do Portal InvestNE:
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) optou para a redação neste ano, na edição que começa hoje (domingo, 3.11), por um tema que não deveria ser polêmico, mas é: “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”. A decisão foi corajosa, considerando a carga de intolerância com a qual muita gente – inclusive da política – trata a cultura negra, mas fez-se certo em não recuar diante do risco de desagradar uns ou outros.
A polêmica encontra-se sobretudo no pentecostalismo que ocupa parte muito expressiva das igrejas evangélicas e mesmo da católica, em grupos como os da “renovação carismática”, mas está enraizada no Brasil racista e excludente que tanto preocupa.
São todos esses agrupamentos – e aqui não vou perder tempo citando exceções, o que não existe – focos do preconceito, da desinformação, da perseguição e até da violência além da verbal. Expressões como “coisa de preto”, “macumbaria”, “ignorância”, “ateísmo” e “sem valor” costumam, neste País dito laico e democrático, ser associadas a tudo o que tem matriz africana. Pior: em muitas ocasiões ultrapassam os limites dos templos e chegam a casas legislativas e a outros centros de poder.
O Enem, com seus 4,3 milhões de inscritos, é um portal para um novo tempo. E, mantendo posturas destemidas e abordagens amplas, se presta não só a mudar o caráter da educação, mas a educação dos caracteres.